Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos

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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Jornalista formado pela FAFI-BH,especializado em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela ESPMG. "O Tribunal Supremo dos EUA decidiu que "só uma imprensa livre e sem amarras pode expôr eficazmente as mentiras de um governo." Nós concordamos."

13 agosto 2012

HERMENÊUTICA EM DEFESA DOS MENSALEITOS


Dicionário Aurélio: [F. subst. de hermenêutico.]
S. f.
 1. Interpretação do sentido das palavras.
 2....
3. Arte de interpretar leis: "Tanto a praxe como a boa hermenêutica aconselhariam apresentar queixa em juízo contra o delinqüente e prosseguir na causa" (Alberto Rangel, Fura-Mundo!, p. 155). 

Frases de efeito conduzem defesa de réus
Depois de fazer apelo por avaliação técnica do Supremo, advogados recorrem a adjetivos e analogias para tentar absolver seus clientes

Por FAUSTO MACEDO e ROLDÃO ARRUDA -  Para O Estado de S.Paulo

Os advogados de defesa dos mensaleiros pedem ao Supremo Tribunal Federal julgamento rigorosamente técnico. Eles pregam uma batalha de mérito, sem espaço para a politização da demanda, a maior já submetida ao crivo da Corte, 38 réus. Mas o roteiro de suas sustentações orais perante os 11 ministros do STF contempla frases de efeito, midiáticas, manifestações que às vezes passam ao largo do âmbito jurídico.

Direito penal do terror, bala de prata, Idade Média, bruxa e direito penal nazista são argumentos que os defensores empregaram contra a denúncia da Procuradoria-Geral da República, que imputa aos acusados formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e corrupção ativa.
Causídicos de prestígio e distinções ocupam a tribuna do Supremo como se no júri popular estivessem, onde não há freios para a imaginação e a oratória é livre. Até a Carminha, da novela das 8, já foi trazida a plenário. "Virou moda essa história de bando ou quadrilha; na novela das 20 horas a Carminha disse que ia processar a Nina por formação de quadrilha", disse Leonardo Yarochewsky, advogado de Simone Vasconcelos, ex-diretora financeira da agência de publicidade de Marcos Valério.

Luiz Fernando Pacheco, advogado de José Genoino, ex-presidente do PT, parece ter superado a todos no quesito. "A denúncia não faz individualização de conduta, redunda na responsabilidade objetiva. Se é bruxa, queima. É o direito penal nazista. Se é judeu, mata. Foi presidente do PT, tem que ir para a cadeia."
Ainda Pacheco: "Responsabilidade objetiva nos remete à Idade Média. É o direito penal do terror, direito penal do inimigo, direito penal nazista. É judeu, então mata. Mata porque é judeu".
"É uma ênfase à tese estritamente jurídica", anota o defensor do petista. "Não fugi do plano técnico, em 38 minutos de sustentação eu quis dizer que Genoino tem que responder pelo que fez ou deixou de fazer. A denúncia não faz individualização de conduta, redunda na responsabilidade objetiva."

O que levou Leonardo Yarochewsky, 25 anos de advocacia, professor de direito penal, a arrolar o testemunho da loira histérica e adúltera de Avenida Brasil? "Eu gosto de novela, aprecio muito. Quando falo da Carminha pretendo alertar que nesse País virou rotina o Ministério Público acusar por quadrilha, é a banalização desse tipo de denúncia. O eminente professor René Ariel Dotti escreveu que existe um bando de denúncias por bando ou quadrilha."

Márcio Thomaz Bastos, o decano da classe, defende José Roberto Salgado, ex-vice-presidente do Banco Rural. "É um julgamento de bala de prata, feito uma vez só, e como se trata de destinos de pessoas, é preciso duplo cuidado", recomendou aos ministros. "(Salgado) se viu envolvido nesse furacão, marca de fantasia mensalão."

Questão de ordem. "É argumento técnico", assevera o ex-ministro da Justiça. "Na questão de ordem pedi o desmembramento em relação ao meu cliente. Não foi dado. O que eu fiz (na sustentação oral) foi dizer ao Supremo aquilo que o Supremo já sabe: é preciso cuidado para compensar a falta de duplo grau, que deveria haver e não há. Pode ser um pouco até enfático, mas não acho que isso fuja da técnica de argumentação."

Marcelo Leonardo, criminalista conceituado, foi taxativo na sustentação oral. "Marcos Valério não é troféu ou personagem a ser sacrificado em altar midiático." Ele desafia: "Se alguém quiser me atribuir fuga da discussão técnica é porque não viu minha defesa.”

Um comentário:

Anônimo disse...

Chamo atenção para o texto do poeta Ferreira Gullar ("Só o chefe não sabia") publicado na Folha de domingo. Quem ainda não leu, pode lê-lo integralmente no Implicante:
Falando francamente, qual é a imagem que se tem de Lula? Melhor dizendo, se alguém lhe pedisse uma definição do nosso ex-presidente da República, qual daria? Diria que se trata de uma pessoa desligada, pouco objetiva, que mal repara no que se passa à sua volta? Estou certo de que não diria isso, nem você nem muito menos quem privou ou priva com ele.
Ao contrário de alguém desligado, que entrega aos outros a função de informar-se e decidir por ele, Lula sempre se caracterizou por querer estar a par de tudo o que acontece à sua volta e, muito mais ainda, quando se trata de questões ligadas a seu partido e à realidade política em geral.
As pessoas que o conheceram no começo de sua vida política, como os que lidaram com ele depois, são unânimes em defini-lo como uma pessoa sagaz, atenta e sempre interessada em tudo saber do que se passava na área política e, particularmente, o que dizia respeito às disputas, providências e articulações que ocorriam dentro do seu partido e no plano político de um modo geral.