Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos

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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Jornalista formado pela FAFI-BH,especializado em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela ESPMG. "O Tribunal Supremo dos EUA decidiu que "só uma imprensa livre e sem amarras pode expôr eficazmente as mentiras de um governo." Nós concordamos."

30 abril 2011

Carta do Zé Agricultor, o criminoso da roça...(ipsis litteris)

A carta a seguir - tão somente adaptada por Barbosa Melo - foi escrita por Luciano Pizzatto, engenheiro florestal, especialista em direito sócio ambiental, empresário e diretor de Parque Nacionais e Reservas do IBDF-IBAMA 88-89, detentor do primeiro Prêmio Nacional de Ecologia.


Prezado Luis,


Quanto tempo; né?.


Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava. Lembra; né? O Zé do sapato sujo? Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão por isso o sapato sujava.
Se não lembrou ainda eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo... hehehe, era eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra casa, já era onze e meia da noite, e com a caminhada até em casa, quando eu ia dormi já era mais de meia-noite. De madrugada, o pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu só vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra; né, Luis?
Pois é. Estou pensando em mudar para viver aí na cidade, que nem vocês. Não que seja ruim o sítio; aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar puro... Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos aí da cidade. Tô vendo todo mundo falar que nós da agricultura familiar estamos destruindo o meio ambiente.
Veja só. O sítio de pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que parar de estudar) fica só a uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter, porque não se pode fincar os postes por dentro uma tal de APPA que criaram aqui na vizinhança.
Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha; mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou, deve ser verdade, né Luis?
Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né .) contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou. Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família. Mas vieram umas pessoas aqui, do sindicato e da Delegacia do Trabalho, e falaram que, se o Juca fosse tirar leite das vacas às 5 horas, tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo. Mas as vacas daqui não sabem os dias da semana e, aí, não param de fazer leite. Os bichos daí da cidade sabem se guiar pelo calendário?
Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca, e disseram que o beliche tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encumpridar uma cama; só comprando outra, né Luis? O candeeiro, eles disseram que não podia acender no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca.
Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele.
Bom, Luis; tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas avisei pra ele que ele estava muito bem protegido pelos sindicatos, pelo fiscais e pelas leis. Foi o que eu pensei, mas eu acho que me enganei. É que, semana passada, me disseram que ele foi preso na cidade, porque botou um chocolate no bolso, tirado da prateleira de um supermercado. Levaram ele pra delegacia, bateram nele, e não apareceu nem sindicato nem fiscal do trabalho para acudi-lo.
Depois que o Juca saiu, eu e Marina (lembra dela, né? casei) tiramos o leite às 5 e meia. Aí, eu levo o leite de carroça até a beira da estrada onde o carro da cooperativa pega todo dia; isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eu dava; hoje eu jogo fora.
Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros . Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor. Achei que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que vender os porcos as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as vacas. O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não ai mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade. Ô, Luis, aí, quando vocês sujam o rio, também pagam multa grande; né?
Agora, pela água do meu poço, eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com mata ciliar dos dois lados. As vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios ai da cidade. A pocilga já acabou, as vacas não podem chegar perto. Só que alguma coisa tá errada, porque, quando vou na capital, nem vejo mata ciliar, nem rio limpo. Só vejo água fedida e lixo boiando pra todo lado.
Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né Luis? Quem será? Aqui no mato agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa Senhora!. Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa.
Fui no escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no Ibama da capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vir fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram 8 meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo. Aí eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. Pronto! No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do
Promotor, porque virei criminoso reincidente. Primeiro foi os porcos, e agora foi o pau. Acho que desta vez vou ficar preso.
Tô preocupado, Luis, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de 500 a 20 mil reais por hectare e por dia. Calculei que, se eu for multado, eu perco o sítio numa semana. Então é melhor vender, e ir morar onde todo mundo cuida da ecologia. Vou para a cidade. Aí tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazer nada errado, só falei dessas coisas porque tenho certeza que a lei é pra todos.
Eu vou morar ai com vocês, Luis. Mais fique tranqüilo; vou usar o dinheiro da venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira. Aqui no sitio eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, limpa e só depois colhe pra levar pra casa. Ai é bom, porque, com vocês, e só abrir a geladeira, que tem tudo. Nem dá trabalho, nem planta, nem cuida de galinha, nem porco, nem vaca; é só abrir a geladeira, que a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nós, os criminosos aqui da roça.
Até mais, Luis.
Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel reciclado pois não existe por aqui, mas me aguarde até eu vender o sítio.
(Todos os fatos e situações de multas e exigências são baseados em dados verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental é desigual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano.)
Divulgue! Fonte: e-mail recebido e distribuido. Faça vc também !

29 abril 2011

DO TREM BALA PERDIDA A COPA DO FRACASSO

Herança maldita é isso aí


Do Blog de Augusto Nunes



Em julho de 2006, quando o acasalamento do descaso administrativo com a escassez de investimentos pariu o apagão aéreo, o presidente Lula comunicou ao país que o ministro da Defesa, Waldir Pires, cuidaria de matar o monstrengo no berço.

O plácido baiano nada fez. Foi substituído em julho de 2007 por Nelson Jobim, que prometeu matar de susto a criatura que acabara de festejar o primeiro aniversário.

Além de brincar de general, almirante e brigadeiro, também o gaúcho falastrão nada fez. Em julho de 2008, repassou o filho da inépcia federal a Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil.

No país real, as coisas seguiram piorando. No Brasil Maravilha inventado por Lula, não foi pouco o que a Mãe do PAC fez. Só em São Paulo, inaugurou o terceiro aeroporto que até hoje ninguém viu, modernizou Guarulhos sem deixar marcas visíveis da proeza e ampliou Viracopos sem acrescentar-lhe um único metro.

Em julho de 2010, durante a campanha eleitoral, deu o problema por resolvido e foi cuidar do trem-bala. No País do Carnaval, não é agosto o mais inquietante dos meses. É julho, confirmou nesta terça-feira a reunião entre Dilma e seus 40 ministros.

Invocando a aproximação da Copa do Mundo, os cardeais do novo e já velho governo resolveram enxergar o colapso da aviação civil. Também decidiram que cabe à iniciativa privada solucionar o problema que conceberam, amamentaram e carregam no colo.

Em julho ─ sempre no sétimo mês ─ estarão prontos os editais que instituem nos cinco principais aeroportos o modelo de concessão. Concessão é a privatização que não ousa dizer seu nome.

Leia a íntegra do artigo em Herança maldita é isso aí, clicando no titulo.

20 abril 2011

MALVERSAÇÃO DE DINHEIRO PÚBLICO


Gasto em publicidade de Lula bate o de FHC em 60%

O Estado de S.Paulo

Em seu último ano, o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva gastou R$ 1,62 bilhão com publicidade. A despesa ocorreu em ano eleitoral e superou em 60% os gastos realizados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 2002, seu último ano de mandato.

Dados divulgados pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência registram que o valor é a soma dos investimentos de todos os órgãos e entidades da administração direta e indireta, que incluem ministérios, secretarias, fundações, autarquias e empresas estatais.

De acordo com os dados oficiais, R$ 472,7 milhões foram investidos pela administração direta e R$ 1,15 bilhão pela administração indireta. O Planalto informou que o dinheiro foi aplicado nos meios televisão, jornal, rádio, revista, internet, outdoor, cinema e mídia exterior (mídia em aeroportos, placas, painéis, etc).

Em nota publicada à noite, a Secom argumenta que "alguns investimentos publicitários" passaram a integrar o rol de despesas do governo só na era Lula. "Até 2003, não havia investimentos publicitários em órgãos como Ministérios do Turismo, Ciência e Tecnologia, Cidades, Secom, Secretarias de Direitos Humanos, Mulheres, Promoção da Igualdade", diz a nota.

16 abril 2011

INICIO DO FIM DESDE DO SECULO PASSADO

Belo Horizonte, 30 de novembro de 1.997.

Por Jarbas Cordeiro de Campos*

Senão despertarmos agora, no próximo século seremos apenas uma boa, mas vaga lembrança para os cidadãos de nossa Capital. Devemos e precisamos defender o ideal Social Democrata, em praça pública e em todos os fóruns de debates da sociedade. Todavia, antes de irmos para estes fóruns, precisamos quebrar a imobilidade das bases, resgatar a consciência política, ampliando nossa militância e ainda capacitá-la para o contraditório político.


Desde 1988, ano da fundação do PSDB, poucos foram os momentos em que se manteve mobilizada as bases do Partido, ou seja, seus militantes, os membros de diretórios, inclusive a base parlamentar eleita: vereadores, deputados estaduais e federais e outros. Exceção as vésperas de eleições ou convenções, assim mesmo deixando a desejar se consideramos o número de filiados, fato este que acreditamos acontece com nosso partido em todas as capitais.

Enquanto Diretório Nacional e Estadual e Executiva Municipal, precisamos de companheiros que pratiquem uma administração partidária participativa entre os militantes e as bases parlamentares com dinamismo e ações próprias, especificamente voltadas para as questões da Cidade, mas claro sem perder de vista as questões internas, do próprio partido que ainda permite que falsos militantes apoderem-se do Partido, realizem convenção sem edital, portanto, sem dar conhecimento aos filiados, em hora e local ignorados, violando a democracia partidária, os princípios programáticos e as normas estatutárias, notadamente os artigos 14 e 32 de nosso Estatuto.

Precisamos transmitir a todos os militantes, não só através de cursos de formação política, mas por meio de fóruns, seminários, conferências e mesmo através do Conselho Municipal de Ética e Disciplina entre outros mecanismos os conhecimentos e as EXPERIÊNCIAS VITORIOSAS obtidas pelos companheiros que estiveram e estão a frente de diretórios, de secretarias e outros órgãos da administração tucana municipal, estadual e federal, caso contrário estaremos nadando contra a correnteza e consequentemente seremos levados a derrota. Desta forma o Partido no município crescerá e terá posições claras e comparativas que levadas, tanto ao conhecimento da população pela mídia, como defendidas pela Bancada de Vereadores, servirão de parâmetros no confronto das idéias, dos programas e métodos de administração pública.


*Jornalista, foi Diretor de Assuntos Legislativo do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte, fundador do PSDB nacional, estadual, zonal e municipal, foi primeiro presidente do 39º Diretório Zonal do Partido e Delegado a Convenção Estadual e Nacional e ao Congresso Estadual e Nacional do PSDB; três vezes-Presidente da Associação dos Servidores do Legislativo do Município de Belo Horizonte, fundador do Conselho Regional de Associações Comunitárias da Região Nordeste de Belo Horizonte, entidade mantenedora do CSU-São Paulo, entre outras experiências.


“Não podemos deixar que o mundo se transforme num mercado global sem outra lei que a do mais forte. Precisamos repensar esse mundo e introduzir o social entre os pontos maiores de nossa preocupação” Mitterrand, presidente francês.

15 abril 2011

Preços do governo pressionam a inflação

Apesar do governo tentar controlar a inflação, reajustes no setor público colaboram para escalada do custo de vida Por Alexandre Rodrigues, para O Estado de S.Paulo Enquanto o governo tenta mostrar empenho para controlar a inflação, os reajustes de preços administrados pelo setor público têm exercido influência significativa no aumento do custo de vida. Os aumentos do transporte urbano nas principais regiões metropolitanas ajudaram o grupo transporte a responder por mais de um quarto da inflação de 2,44% medida no primeiro trimestre do ano pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deve continuar a registrar a pressão do segmento na inflação de abril, já que os reajustes de ônibus urbanos em cidades como Curitiba (13,5%) e Fortaleza (11,11%) entraram em vigor depois do início de março, deixando resíduos para abril.

Na capital fluminense, no início de abril, o metrô subiu 10,7% e os táxis tiveram reajuste de 14% no quilômetro rodado e de 2,3% na bandeirada.

Além disso, outros aumentos autorizados pelo setor público estão previstos para este mês. As taxas de água e esgoto subiram 16% em Curitiba na segunda quinzena de março. Em Goiânia e Belo Horizonte, o serviço deverá ter reajuste de 6% e 7%, respectivamente, nos próximos dias.

14 abril 2011

"HERANÇA MALDITA"



Por Merval Pereira, para O Globo

Os indicadores econômicos não são bons para o governo, mostrando inflação em alta e crescimento em desaceleração. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de fevereiro indica que houve uma queda pela metade em relação a janeiro. De acordo com o Banco Central, a atividade econômica cresceu 4,17% no primeiro bimestre em relação ao mesmo período de 2010, o que coloca o crescimento anual do PIB mais próximo de 4% do que dos 5,5% da previsão oficial.


Enquanto isso, a inflação se aproxima do teto da meta (6,5%), com tendência a ultrapassá-lo nos próximos meses.
Há claras semelhanças entre a situação atual e a que o presidente Lula encontrou nos primeiros meses de governo em 2003, mesmo que por motivos diferentes.


O mais grave é que, nas duas ocasiões, o descontrole da economia tem origem na própria ação política e econômica petista.


Lula e Dilma receberam a seu tempo "heranças malditas", fruto de seus próprios atos irresponsáveis.


Em 2002, a inflação oficial ficou em 12,53%, a maior desde 1995, quando o teto da meta era de 5,5%, e o motivo principal da alta do IPCA foi o descontrole na cotação do dólar, que chegou a atingir R$ 4,00, pressionando os preços especialmente no segundo semestre, à medida que ficava clara a possibilidade de vitória de Lula.


Já nos nossos dias, o governo parece manipular a cotação baixa do dólar para tentar segurar a inflação, que mesmo assim se aproxima de 7%. O índice de janeiro indica a pior inflação desde 2005.


Pelo menos é o que pensa o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que em recente encontro de empresários criticou a política econômica por, ao priorizar o controle da inflação, ter abandonado "compromisso" de manter o câmbio a pelo menos R$ 1,65, deixando que ele ficasse abaixo de R$ 1,60, o que faz com que o dólar esteja em seu nível mais baixo desde o Plano Real.


Cálculos da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior com base na taxa real de câmbio mostram que o poder de compra da moeda brasileira praticamente dobrou em relação ao verificado em julho de 1994, início do Plano Real, como se o dólar estivesse 50% mais barato do que naquela época.


O problema da presidente Dilma é que ela não pode atribuir à "herança maldita" de Lula seus problemas econômicos, mesmo porque os gastos excessivos do governo central foram feitos em grande medida para garantir sua eleição, embora oficialmente tenham sido atribuídos a políticas anticíclicas para combater a crise.

A crise não passou de um pretexto a posteriori para o descontrole que já havia sido contratado.


Lula, ao assumir em 2003, com seu pragmatismo político, tomou todas as ações mais duras que tinha que tomar e atribuiu todos os seus problemas a uma suposta "herança maldita" deixada por Fernando Henrique Cardoso.


O principal mentor da política econômica que reequilibrou as contas públicas foi o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que, se durante os anos iniciais do primeiro mandato de Lula era a eminência parda da economia, começou a perder terreno quando Dilma assumiu a Casa Civil em lugar de José Dirceu, na crise do mensalão.


Houve a célebre discussão sobre corte dos gastos públicos, quando Dilma chamou de "rudimentar" uma proposta de Palocci e Paulo Bernardo, então no Planejamento, para corte de gastos públicos de longo prazo com o intuito de fixar que não poderia haver aumentos superiores ao crescimento do PIB.


A proposta era que, num período de dez anos, com os gastos abaixo do crescimento do PIB, o governo sinalizasse equilíbrio de longo prazo para a economia.


Quando Palocci caiu, em decorrência da crise da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, assumiu Guido Mantega, e a política econômica foi mudando aos poucos, até atingir, no fim do segundo mandato, o ápice da gastança pública.


Mantega assumiu a Fazenda garantindo que levaria a economia ao seu crescimento máximo, que, segundo ele, poderia ser próximo a 5%, enquanto Palocci e Henrique Meirelles, no Banco Central, trabalhavam informalmente com uma taxa máxima de 3,5%, acima da qual a inflação aumentaria.


Tudo indica que, depois de em 2010 termos tido crescimento indiano de 7,5%, voltaremos ao antigo PIB potencial de 3,5%, em virtude do descontrole da inflação provocado por uma política de crescimento do Estado e consequentes aumentos dos gastos públicos.


O ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, permanece onde sempre esteve, isto é, defendendo o controle dos gastos públicos e da inflação através de remédios amargos nos primeiros meses de governo.


O problema é que Lula podia aguentar o tranco de crescer apenas 1% no primeiro ano de governo, para pôr a economia em ordem, mas Dilma parece temer por enquanto uma economia que desacelere muito.


Ela ainda parece apostar na estratégia de Mantega, que combate a inflação a conta-gotas e se utiliza da valorização do real para não afetar o crescimento da economia mais do que já está.


A previsão oficial de crescimento já caiu de 5,5% para 4%, mas, como a inflação não dá sinais de recuar, é possível que sejam necessárias novas medidas para conter a demanda.


À medida que não dão resultados, essas propostas defendidas por Mantega parecem levá-lo para o cadafalso. A própria presidente já teve que sair em sua defesa, para desmentir boatos de troca de ministério.


Mas, no banco de reservas, prontos para entrarem em campo em posições mais decisivas, estão o próprio presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e o secretário-geral da Fazenda, Nelson Barbosa, homem de confiança de Dilma Rousseff.


Os dois, porém, têm o mesmo perfil nacional-desenvolvimentista que precisaria ser freado neste momento. E nada indica que haja ambiente político para que o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, retorne ao comando da economia. E muito menos que ele queira.

06 abril 2011

Existe inteligência na oposição ao governo


Aécio Neves quer fazer dos prefeitos sua base

Por Ilimar Franco, para O Globo


O senador Aécio Neves (PSDB-MG) fez um engenhoso discurso hoje no Senado. Falou como quem tem consciência da fragilidade orgânica da oposição e da dificuldade de fortalecer o PSDB, o DEM e o PPS sem a máquina do governo federal. Falou com profundo conhecimento da realidade política brasileira e como quem sabe que historicamente tem sido muito difícil atrair para a oposição parcelas dos partidos que estão no governo Dilma Rousseff.

Sem condições orgânicas de capturar as estruturas partidárias, a opção de Aécio foi falar direto para as bases desses partidos, para os caciques locais. Ao adotar como sua principal bandeira a questão da crescente redução da parcela dos municípios no bolo tributário, ele disse o que querem ouvir os mais de cinco mil prefeitos brasileiros, sejam aliados ou de oposição ao governo Dilma Rousseff: Os municípios precisam ter uma participação maior no bolo tributário. Esse discurso é música de qualidade nos ouvidos dos prefeitos.

O tucano mineiro está dizendo: votem em mim, peçam votos para que eu seja presidente, que vocês terão mais dinheiro na mão para administrar seus municípios. É tudo o que eles querem e pelo qual lutam suas entidades. Não há prefeito que faça reparo a este discurso. Muitos estarão tentados, num cenário de estabilidade econômica, a fazer uma opção eleitoral pragmática e prática.

Esta na busca de criar um movimento em apoio à sua candidatura, que rompa a dicotomia de amor e ódio entre petistas e tucanos, a explicação para o discurso moderado de oposição, no qual abriu espaço para que sejam reconhecidos méritos e erros em todos os governos do país desde a redemocratização. Os mais raivosos devem ter espumado ao ouvirem o tom monocórdico das críticas do mineiro.

É cedo ainda para sabermos se a estratégia de Aécio Neves vai colar, mas ele está dando uma demonstração cabal de que há inteligência política e emocional na oposição.

05 abril 2011

Uso de dinheiro ilegal ou Mensalão do PT

Nos trilhos


Por Merval Pereira, para o Blog do Noblat


O relatório final da Polícia Federal sobre o mensalão, que está na mesa do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pode ser a peça que faltava para que a denúncia criminal seja feita antes de agosto, quando prescreve o crime de formação de quadrilha contra os 38 acusados do processo. O que impede a prescrição é a denúncia, que tem que ser feita pelo Ministério Público através do procurador-geral da República.

O relatório, fruto de seis anos de investigações, recoloca as coisas em seus devidos lugares e enterra a tentativa em curso de desqualificar o processo que foi acolhido pelo Supremo e tem uma novidade explosiva que, mais uma vez, leva o mensalão para dentro da campanha presidencial de Lula em 2002.

O ex-segurança e amigo de Lula, Freud Godoy — envolvido também no caso dos aloprados da campanha de 2006, apanhados tentando comprar um dossiê contra os candidatos tucanos — confessou à Polícia Federal que recebeu R$ 98,5 mil do esquema ilegal como pagamento pelos serviços de segurança prestados na campanha de 2002 e durante o período de transição, entre a vitória na eleição e a posse de Lula na Presidência.

Em 2005, quando estourou o caso do mensalão com a denúncia do presidente do PTB, o então deputado Roberto Jefferson, houve um momento decisivo na CPI que apurava os desvios.

Foi quando o marqueteiro Duda Mendonça confessou que recebeu parte do pagamento pela campanha presidencial de Lula em uma conta no exterior, dinheiro do esquema montado pelo empresário Marcos Valério que acabou conhecido como mensalão.

Não foram poucos os petistas que consideraram que ali havia chegado o fim da linha para o partido e o próprio governo, apanhados em falcatruas diversas.

O uso de dinheiro ilegal para pagamento da campanha presidencial tipificava crime de responsabilidade pelo presidente da República, pois o pagamento fora feito já com Lula no Planalto, e chegou-se a falar na oposição de pedido de impeachment contra o presidente.

Naquele momento delicado, os principais assessores de Lula chegaram a analisar, segundo depoimento do então secretário particular do presidente, Gilberto Carvalho, a hipótese de o presidente Lula não concorrer à reeleição.

Os então ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, chegaram certa vez a sugerir ao presidente Lula que fizesse um acordo com a oposição: em troca de poder cumprir todo o seu mandato, abriria mão da reeleição. Há relatos de que Márcio Thomaz Bastos chegou a procurar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para tentar um acordo nesse sentido.

A oposição, no entanto, temia uma reação dos chamados "movimentos sociais", e o próprio Fernando Henrique alertou para o perigo de se criar um "Getulio vivo" com a deposição de Lula.


Chegaram à conclusão de que seria melhor deixá-lo "sangrando" até o fim do governo, certos de que ele seria derrotado na reeleição, um erro de cálculo grosseiro, como se pode constatar.

Agora, está comprovado que outro componente importante do esquema pessoal de Lula na campanha presidencial também recebeu dinheiro do que ficou conhecido como valerioduto, esquema de uso de dinheiro público montado por Marcos Valério para comprar apoio no Congresso ao governo Lula e locupletar os dirigentes petistas.

O relatório da PF traz mais provas confirmando o que já está no processo do Supremo: a maior parte do dinheiro para compra de políticos tinha como origem o fundo Visanet do Banco do Brasil.


A Polícia Federal também conseguiu provar que o banqueiro Daniel Dantas cedeu à chantagem do PT, depois de uma reunião com o então chefe do Gabinete Civil, José Dirceu, e se comprometeu a dar uma "ajuda financeira" ao partido no valor de US$ 50 milhões, dos quais pelo menos R$ 3,6 milhões teriam sido repassados ao publicitário pouco antes de estourar o escândalo.

As novas provas da Polícia Federal servem para esvaziar a tentativa de refazer a história que estava em curso pelo PT, com a ajuda pessoal do ex-presidente Lula.

A indicação do deputado João Paulo Cunha, um dos mensaleiros, como presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados faz parte dessa manobra petista, que visava a constranger o Supremo no julgamento do mensalão que se avizinha, tratando os acusados como virtualmente absolvidos.

O ex-presidente Lula, que em 2005 fez um discurso à nação dizendo-se traído, tem se dedicado nos últimos anos a tentar apagar da História do país o maior escândalo de corrupção já registrado, alegando que se tratou de uma tentativa de golpe para tirá-lo do governo.

Ainda na Presidência, Lula recebeu no Palácio o ex-ministro José Dirceu, acusado pelo procurador-geral da República de ser o "chefe da quadrilha" do mensalão. Dirceu saiu alardeando que Lula se dedicaria, quando deixasse a Presidência, a esclarecer "a farsa" do mensalão para provar que ele não passara de um golpe político.

O próprio Lula, na campanha do ano passado, usou o palanque em que fazia a defesa da candidatura Dilma para acusar: "Mais uma vez (sic) se tentou truncar o mandato de um presidente democraticamente eleito."

Também o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, expulso do partido ainda em 2005, e o ex-secretário-geral do partido Silvio Pereira, que pediu desfiliação na mesma época para evitar a expulsão, estão querendo que a direção partidária reconsidere suas situações.

Silvinho, como era conhecido, já não está mais entre os acusados pelo mensalão no processo do Supremo: através de um acordo com a Procuradoria Geral da República, aceitou fazer 750 horas de serviços comunitários em três anos, numa aceitação de culpa.

O crime de que ele era acusado, o de formação de quadrilha, pode prescrever ainda em agosto deste ano caso a condenação venha a ser de apenas um ano. Outras nove pessoas, entre elas, José Dirceu, estão acusadas nesse crime e podem ser beneficiadas pela prescrição.

O relatório final da Polícia Federal pode ajudar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a fazer a denúncia criminal antes de agosto ou então fortalecer a convicção dos juízes do Supremo, justificando uma eventual condenação pelo Supremo Tribunal Federal a pena maior que um um ano, o que anularia a prescrição.