Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos

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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Jornalista formado pela FAFI-BH,especializado em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela ESPMG. "O Tribunal Supremo dos EUA decidiu que "só uma imprensa livre e sem amarras pode expôr eficazmente as mentiras de um governo." Nós concordamos."

21 agosto 2018

Feito do sangue de Satanás

O desejo é livre hoje? Eu arriscaria o oposto: nunca o desejo foi tão reprimido. Coluna de Luiz Felipe Pondé, via Gazeta do Povo:


“O desejo pinga”, famosa frase de Nelson Rodrigues. Mas, para além do óbvio, o que ela quer dizer? Há uma matéria concreta no desejo que escorre, por exemplo, pelas pernas das mulheres. Eu sei. Dirão os inteligentinhos que vivemos na época da liberação do desejo, inclusive das mulheres. Eu arriscaria o oposto: nunca o desejo foi tão reprimido.

Mesmo em meio à inquisição havia mais respeito pelo desejo. Por que? Porque não há forma mais honesta de se reconhecer o desejo do que temê-lo. Qualquer pessoa que tenha visto o desejo escorrer pelas pernas, molhando a saia, sabe que o mundo público é, por definição, hostil ao desejo.

Enganamo-nos declarando que o direito ao desejo é um direito universal. Apenas os ingênuos ou os mentirosos creem nisso. Há aqueles mesmo que creem no ensino do desejo nas escolas. Não. O melhor ensino acerca do desejo é seu silêncio. O desejo cresce no silêncio e na escuridão. A luz é seu habitat natural muito raramente. Luz demais mata o desejo, já sabiam os vampiros.

Mas, onde reside a pior forma de repressão já criada contra o desejo? Reside, entre outras coisas, na criação de uma política do desejo. A civilização só respira graças ao temor que alimenta em relação ao desejo. Qual a diferença entre a repressão, digamos, medieval, ao desejo, e a contemporânea?

A contemporânea decidiu que o desejo é “saudável” e é “um direito de todo cidadão”, e, dessa forma, o transformou em matéria constitucional. O Sapiens, talvez já cansado de toda sua evolução, chegou à conclusão de que o desejo só pode existir se for balanceado caloricamente.

Seria possível imaginar um mundo sem desejo? Claro que sim. Basta torná-lo absolutamente correto e seguro. Eis o pecado máximo do desejo: não cabe na geometria do contrato social. Quando o soltamos numa praia deserta cheia de pessoas que chegaram ao estágio de não odiar ninguém, já vivemos no mundo sem desejo. Alguém conhece um lugar com menos desejo do que os clubes de nudismo dos anos 1960?

A pornografia reversa é a condição de um mundo em que o desejo virou matéria constitucional. O resultado, nos cantinhos que restam de escuridão, serão mulheres indo trabalhar sem calcinha para, no silêncio das suas pernas, sonhar que alguém sabe de sua condição. Nas músicas de má qualidade, em que o desejo é cantado como um “estado natural”, encontramos uma das faces da sua miséria.

Para além de seu estado de líquido que escorre, só há dois modo de relação com ele: sua condenação ou nossa misericórdia. Por isso, a tradição religiosa é mais sábia do que a política de direitos ou arte liberada da vergonha. Onde não há vergonha, não há desejo.

A modernidade, em meio às suas inúmeras qualidades, carrega uma, disfarçada de amor: sua decisão de eliminar as sombras, de uma vez por todas. O desejo cresce e se torna robusto quando o caçam pelas ruas. Quando o lançam às chamas do inferno, quando lhe negam o direito a respirar.

Há uma economia muito sofisticada nessa forma de vida, pouco comum num mundo que escolheu o bem-estar como paradigma. Não existe tal coisa chamada de “desejo do bem”.

Não me entendam mal. Não faço aqui uma oração pela destruição do bem-estar. Os inteligentinhos, na sua tradicional incapacidade de entender qualquer coisa que não seja traduzida na forma da razão militante, certamente me entenderão mal. Mas não há como falar de desejo sem incorrer no risco de ser compreendido como algum tipo de Sade cansado. Morremos de medo do desejo, por isso decidimos vesti-lo de roupas coloridas e determinar que é Carnaval o ano inteiro e que, se você cansar da música e da festa ruidosa, você é contra o desejo.

Uma das formas mais típicas de destruição de desejo é dizê-lo como o “desejo do outro”. Pois este é sempre meu, nunca do outro. O outro é sempre objeto, Ou melhor: o outro e eu, movidos pelos mesmo líquido que escorre pelas pernas em direção à vergonha pública.

Nas formas de organização racional moderna, típicas do mundo do dinheiro, os que teorizaram sobre a liberação do desejo contra a repressão burguesa deste foram seus repressores mais bem-sucedidos.

Falando em nome do “é proibido proibir”, inauguraram a maior e mais extensa forma de negação do próprio desejo, porque o declararam um bem público. Enquanto ele era pecado, feito do sangue do Satanás, sobrevivia no seu elemento natural, o medo. Quando saiu para as ruas, tornou-se banal como um suco de frutas natural.

16 agosto 2018

A DITADURA DOS DIRETORIOS NACIONAIS SOBRE OS REGIONAIS.

A campanha para o governo de Minas Gerais começa hoje, ainda às voltas com a divisão do PSB e à espera de uma decisão dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a candidatura de Marcio Lacerda a governador do estado. Caberá à corte dar uma solução para o impasse que embolou a disputa pelo Palácio da Liberdade. A assessoria do tribunal informou que o assunto não está na pauta da  sessão marcada para a tarde de hoje, mas não descartou a possibilidade de uma mudança.
Ontem, no último dia para a entrada de pedido de registros de candidatos, enquanto a direção municipal da legenda protocolava a candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte, integrantes da direção estadual questionavam o ato e reforçavam a aliança em torno da reeleição de Fernando Pimentel (PT).
O documento apresentado pela ala pró-Lacerda inclui o nome do deputado estadual Adalclever Lopes (MDB) para vice-governador e o do deputado federal Jaime Martins (Pros) para senador. A chapa tem a participação ainda do PDT, PV, PRB e Podemos. O presidente municipal do PSB, Gelson Leite, evitou comentar o julgamento no TSE de um mandado de segurança que pode inviabilizar a candidatura de Lacerda.
Os ministros vão definir se foi válida a intervenção do PSB nacional, que destituiu a direção da legenda e aprovou a aliança com o PT. Em caso positivo, a candidatura de Lacerda estaria descartada, já que a convenção nacional do PSB anulou a convenção realizada pela direção destituída e aprovou a aliança com o PT.
“A coligação está confiante, o Marcio está confiante e está se preparando para o debate amanhã (hoje à noite, na TV Bandeirantes) e nós viemos aqui hoje registrar o nosso programa de governo e as nossas candidaturas. Estamos firmes para dar prosseguimento a todo o nosso processo eleitoral”, afirmou Gelson Leite. Em nota, Lacerda disse acreditar na vitória na Justiça Eleitoral. “Após cumprir todos os procedimentos legais para tal ato, neste momento confio na Justiça e em sua celeridade para que possamos confirmar definitivamente a aprovação do registro”, afirmou. A coligação enviou ontem pedido ao TSE para que inclua o julgamento na pauta de hoje.
O secretário-geral do PSB estadual, Igor Versiani, comunicou ontem mesmo ao TRE mineiro que o documento entregue pelo grupo adversário é ilegítimo. Anunciou ainda que a legenda vai impugnar a candidatura de Lacerda no TRE. “O partido tem comando e o Marcio Lacerda está em um projeto de poder individual. Ele está tentando se vitimar e confundir a opinião pública”, reclamou Versiani. De acordo com ele, o PSB protocolou o pedido de registro da chapa proporcional, que reúne PT, PCdoB, DC e PR. Ainda segundo Versiani, o partido continua defendendo a indicação de Lacerda para a segunda candidatura da coligação para o Senado, ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Substituto

O PT foi o último partido a registrar a candidatura ao governo, pouco antes do prazo final – que se encerrou às 19h de ontem. E ainda conta com a participação de Marcio Lacerda na chapa encabeçada por Fernando Pimentel e pela deputada federal Jô Moraes (PCdoB) para vice. Para o Senado, foram registrados os nomes de Dilma Rousseff e Jorge Luna, atual tesoureiro do PT – nome que será substituído caso o ex-prefeito de BH desista ou tenha a candidatura a governador inviabilizada pela Justiça Eleitoral. Segundo a presidente estadual do PT, Cida de Jesus, Luna foi indicado para que as negociações fossem mantidas.
De acordo com o presidente estadual do PSB, Renê Vilela, a segunda candidatura a senador “está resguardada para Márcio Lacerda”. Vilela ainda assegurou que Lacerda teria dito ao presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, durante conversa por telefone, que estaria “disposto a concorrer ao Senado” desde que o MDB esteja na chapa – hipótese descartada pelo PSB. Questionado sobre o registro realizado mais cedo pela ala pró-Lacerda, o presidente do PSB estadual o classificou como “um jogo” do ex-prefeito.
Nove candidatos ao governo registraram a candidatura no TRE mineiro: além de Lacerda e Pimentel, concorrerão ao cargo Antonio Anastasia (PSDB), Alexandre Flach (PCO), Claudiney Dulim (Avante), Dirlene (Psol), João Batista dos Mares Guia (Rede), Jordano Metalúrgico (PSTU) e Romeu Zema (Novo) – primeiro a registrar o nome para a disputa e o mais risco deles, com patrimônio declarado de R$ 69.752.863,96, dos quais mais de R$ 60 milhões são em “cotas ou quinhões de capital”.
O TRE-MG informou que foram apresentados 2.217 pedidos de registro de candidaturas em Minas para os cargos de governador, senador e deputados federal e estadual. É o maior número da história das eleições gerais no estado.