Dicionário Aurélio: [F. subst. de
hermenêutico.]
S. f.
1. Interpretação do sentido das palavras.
2....
3. Arte de interpretar leis:
"Tanto a praxe como a boa hermenêutica aconselhariam apresentar queixa em
juízo contra o delinqüente e prosseguir na causa" (Alberto Rangel,
Fura-Mundo!, p. 155).
Frases de
efeito conduzem defesa de réus
Depois de fazer apelo por
avaliação técnica do Supremo, advogados recorrem a adjetivos e analogias para
tentar absolver seus clientes
Por FAUSTO
MACEDO e ROLDÃO ARRUDA - Para O Estado
de S.Paulo
Os advogados de defesa dos mensaleiros pedem ao
Supremo Tribunal Federal julgamento rigorosamente técnico. Eles pregam uma
batalha de mérito, sem espaço para a politização da demanda, a maior já
submetida ao crivo da Corte, 38 réus. Mas o roteiro de suas sustentações orais
perante os 11 ministros do STF contempla frases de efeito, midiáticas,
manifestações que às vezes passam ao largo do âmbito jurídico.
Direito penal do terror, bala de prata, Idade
Média, bruxa e direito penal nazista são argumentos que os defensores
empregaram contra a denúncia da Procuradoria-Geral da República, que imputa aos
acusados formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, evasão de
divisas e corrupção ativa.
Causídicos de prestígio e distinções ocupam a
tribuna do Supremo como se no júri popular estivessem, onde não há freios para
a imaginação e a oratória é livre. Até a Carminha, da novela das 8, já foi
trazida a plenário. "Virou moda essa história de bando ou quadrilha; na
novela das 20 horas a Carminha disse que ia processar a Nina por formação de
quadrilha", disse Leonardo Yarochewsky, advogado de Simone Vasconcelos,
ex-diretora financeira da agência de publicidade de Marcos Valério.
Luiz Fernando Pacheco, advogado de José Genoino,
ex-presidente do PT, parece ter superado a todos no quesito. "A denúncia
não faz individualização de conduta, redunda na responsabilidade objetiva. Se é
bruxa, queima. É o direito penal nazista. Se é judeu, mata. Foi presidente do
PT, tem que ir para a cadeia."
Ainda Pacheco: "Responsabilidade objetiva nos
remete à Idade Média. É o direito penal do terror, direito penal do inimigo,
direito penal nazista. É judeu, então mata. Mata porque é judeu".
"É uma ênfase à tese estritamente
jurídica", anota o defensor do petista. "Não fugi do plano técnico,
em 38 minutos de sustentação eu quis dizer que Genoino tem que responder pelo
que fez ou deixou de fazer. A denúncia não faz individualização de conduta,
redunda na responsabilidade objetiva."
O que levou Leonardo Yarochewsky, 25 anos de
advocacia, professor de direito penal, a arrolar o testemunho da loira
histérica e adúltera de Avenida Brasil? "Eu gosto de novela, aprecio
muito. Quando falo da Carminha pretendo alertar que nesse País virou rotina o
Ministério Público acusar por quadrilha, é a banalização desse tipo de
denúncia. O eminente professor René Ariel Dotti escreveu que existe um bando de
denúncias por bando ou quadrilha."
Márcio Thomaz Bastos, o decano da classe, defende
José Roberto Salgado, ex-vice-presidente do Banco Rural. "É um julgamento
de bala de prata, feito uma vez só, e como se trata de destinos de pessoas, é
preciso duplo cuidado", recomendou aos ministros. "(Salgado) se viu
envolvido nesse furacão, marca de fantasia mensalão."
Questão de ordem. "É argumento técnico",
assevera o ex-ministro da Justiça. "Na questão de ordem pedi o
desmembramento em relação ao meu cliente. Não foi dado. O que eu fiz (na
sustentação oral) foi dizer ao Supremo aquilo que o Supremo já sabe: é preciso
cuidado para compensar a falta de duplo grau, que deveria haver e não há. Pode
ser um pouco até enfático, mas não acho que isso fuja da técnica de
argumentação."
Marcelo Leonardo, criminalista conceituado, foi
taxativo na sustentação oral. "Marcos Valério não é troféu ou personagem a
ser sacrificado em altar midiático." Ele desafia: "Se alguém quiser
me atribuir fuga da discussão técnica é porque não viu minha defesa.”
Um comentário:
Chamo atenção para o texto do poeta Ferreira Gullar ("Só o chefe não sabia") publicado na Folha de domingo. Quem ainda não leu, pode lê-lo integralmente no Implicante:
Falando francamente, qual é a imagem que se tem de Lula? Melhor dizendo, se alguém lhe pedisse uma definição do nosso ex-presidente da República, qual daria? Diria que se trata de uma pessoa desligada, pouco objetiva, que mal repara no que se passa à sua volta? Estou certo de que não diria isso, nem você nem muito menos quem privou ou priva com ele.
Ao contrário de alguém desligado, que entrega aos outros a função de informar-se e decidir por ele, Lula sempre se caracterizou por querer estar a par de tudo o que acontece à sua volta e, muito mais ainda, quando se trata de questões ligadas a seu partido e à realidade política em geral.
As pessoas que o conheceram no começo de sua vida política, como os que lidaram com ele depois, são unânimes em defini-lo como uma pessoa sagaz, atenta e sempre interessada em tudo saber do que se passava na área política e, particularmente, o que dizia respeito às disputas, providências e articulações que ocorriam dentro do seu partido e no plano político de um modo geral.
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