Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos

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Jornalista formado pela FAFI-BH,especializado em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela ESPMG. "O Tribunal Supremo dos EUA decidiu que "só uma imprensa livre e sem amarras pode expôr eficazmente as mentiras de um governo." Nós concordamos."

31 outubro 2007

INFIDELIDADE COM O ELEITOR

Fidelidade ao partido e ao eleitor
Por Murilo Aragão*
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) costuma explicar sua saída do PT como conseqüência da infidelidade partidária. Não dele, Cristovam, para com o PT, mas o contrário. Ao assumir a Presidência e abandonar bandeiras históricas, como a de fazer uma revolução na educação, o PT traiu não apenas o eleitor, mas também um parlamentar como Cristovam, que se elegeu prometendo o que seu partido no poder passou a negar.
O que dizer, então, do PSDB no episódio da negociação com o governo para aprovar a prorrogação da CPMF. Na Câmara, 49 deputados tucanos (84,48% da bancada de 58) votaram contra (apenas um a favor; oito ausências) o imposto no primeiro turno; no Senado, seus 13 senadores foram almoçar com o Ministro Guido Mantega, a quem apresentaram uma proposta de seis pontos em troca da qual prometeram dar seus votos para a prorrogação.
Como fica o eleitor numa circunstância como essa? Mais de trinta e sete milhões deles, uma impressionante quantidade de votantes, escolheram o PSDB porque o partido disse que era contra Lula. Entre outras razões porque, na campanha da reeleição, ele defendeu uma política incompatível com a crença da enorme massa de eleitores da quarta democracia do planeta.
Como é possível, então, que os senadores eleitos por 39,17% dos brasileiros com título eleitoral e convicções contrárias ao PT anunciem que vão fazer o contrário do que seus representantes na Câmara fizeram? Antes mesmo que o senador Arthur Virgílio atravessasse a rua para almoçar com Mantega, os militantes tucanos já estavam desconfiados. Pesquisa do jornal O Estado de S. Paulo constatou que 18 dos 27 governadores apóiam a prorrogação da CPMF, mas não se conhece a posição dos governadores José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas Gerais). Supõe-se, com alto grau de acerto, que, como são fortes candidatos à sucessão de Lula, eles aprovem essa fonte de receita tributária tão criticada, inclusive pelo governo Lula.
Em Tel Aviv, onde cumpre suas obrigações de conferencista com boa audiência no mundo globalizado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aprovou os entendimentos dos senadores com o governo, mas questionou: “Precisamos mesmo da CPMF? No passado, precisávamos. Mas hoje a arrecadação aumentou muito”. O Democratas, parceiro do PSDB nesses 13 anos de embates contra os petistas, tomou um caminho diverso: fechou questão contra a CPMF na Câmara e no Senado e responde às abordagens do Planalto quase ao nível do desforço pessoal.
O DEM pretende tirar proveito do ambiente favorável à cobrança de fidelidade partidária instituída pelo Tribunal Superior Eleitoral. Vai expulsar o parlamentar que desobedecer a orientação do partido e requerer na Justiça a devolução do mandato daqueles que se mudaram do DEM para a base governista, a maioria em troca de compensações eleitorais muito oportunas, às vésperas do pleito municipal de 2008.
Claro que roubar, receber propina, comercializar lobby são práticas condenáveis do jogo político pesado ao qual se entregam governo, oposição, enfim, muitos políticos de todos os matizes, infectando a esperança que alimenta as expectativas da população. O povo exerceu o desejo de alternância no poder de forma cristalina nas nove eleições que se seguiram à redemocratização. Prometer defender seus interesses e, de posse do mandato, fazer o contrário também é condenável. Além disso, se o eleitor está confuso com uma oposição que se recusa a assumir o seu papel, pior ficará com quem usa o voto para mudar e amanhece com a mudança de lado do senador ou deputado que elegeu.
*Murillo de Aragão é mestre em ciência política e doutor em sociologia pela UnB e presidente da Arko Advice – Pesquisas e Análise Política.

Um comentário:

Anônimo disse...

Jarbas,

Esse negócio de mudar de partido de acordo com o "interesse" próprio é um absurdo.

Abraços, Guilherme.