
Planalto virou, mais uma vez, um balcão de negócios: os parlamentares entram com o voto para garantir a prorrogação da CPMF e o governo entrega os empregos e a verba desejada pelas bancadas.
Quem não se esqueceu da promessa do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva – na primeira campanha vitoriosa ao Palácio do Planalto – de que iria inaugurar uma nova fase de relacionamento com o Congresso, arquivando definitivamente o “é dando que se recebe”, certamente está se perguntando como se deixou ser novamente enganado.
Quem não se esqueceu da promessa do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva – na primeira campanha vitoriosa ao Palácio do Planalto – de que iria inaugurar uma nova fase de relacionamento com o Congresso, arquivando definitivamente o “é dando que se recebe”, certamente está se perguntando como se deixou ser novamente enganado.
Se no primeiro mandato a fórmula encontrada foi a compra de parlamentares aliados – o famigerado mensalão, que agora está nas barras dos tribunais –, nesse segundo, a farta distribuição de cargos nos 2º e 3º escalões e a liberação das emendas dos parlamentares voltaram com força total. O Planalto virou, mais uma vez, um balcão de negócios: os parlamentares entram com o voto para garantir a prorrogação da CPMF e o governo entrega os empregos e a verba desejada pelas bancadas.
Triste país. Se um presidente da República, respaldado por uma esmagadora votação e amplo apoio popular, não teve coragem e nem vontade política de enfrentar um Parlamento fisiológico e preferiu se valer dos velhos e condenados métodos, o que esperar? A resposta é simples: mais fisiologismo, corrupção e impunidade.
O PMDB, com a força de sua bancada, continuará fazendo o que sempre fez: adere ao governo – seja ele qual for –, faz acordos de fidelidade, para depois ameaçar o governo com a derrubada de matérias consideradas importantes pelo Planalto, e, finalmente conseguindo o que queria – cargos e verbas. Muito simples. A fórmula sempre foi essa e nenhum governo, até agora, conseguiu enfrentá-la e derrubá-la.
As declarações de caciques peemedebistas, de que a rebelião da bancada no Senado seria motivada pela atitude de petistas que aderiram à oposição pedindo a cabeça de Renan Calheiros da presidência da Casa, não passa de mera desculpa para encobrir o real motivo: a sanha por cargos nas estatais e dinheiro para distribuir em suas bases eleitorais.
E olha que desta vez a cara-de-pau foi tão grande que o porta-voz dos rebeldes, senador Wellington Salgado, disse com todas as letras que o grupo era franciscano, se satisfazendo com pouco (um chinelinho e não um sapato de cromo italiano). Na verdade, eles são mesmo franciscanos: adeptos da doutrina pregada por São Francisco de Assis, que diz que “é dando que se recebe”. Com toda a certeza, o santo católico não merece ser lembrado dessa forma.
Foi o senador Tião Viana (PT-AC), vice-presidente do Senado, um dia depois da ‘rebelião’ peemedebista, que em melhor definiu o ocorrido: “Nenhuma surpresa. Esse é o PMDB”. Ele está absolutamente certo. O que causa indignação é o fato de o PT e a equipe de Lula saberem muito bem com quem estão lidando e não conseguirem fazer nada para mudar a situação e, realmente, estabelecer uma nova fórmula de convivência entre Executivo e Legislativo.
Para o governo Lula, a única votação realmente importante no Congresso neste segundo semestre é a da CPMF, que vai render em torno de R$ 40 bilhões aos cofres públicos no ano que vem, caso seja mantida. Na Câmara, a situação está praticamente dominada, com a maioria da base aliada. O problema está mesmo no Senado. A bancada petista, em pequeno número, é fraca; os governistas não são confiáveis e a oposição está deitando e rolando. E, infelizmente, o governo está se mostrando, mais uma vez, fraco (como o PT). Então, a saída continua sendo a de sempre: ceder às chantagens do PMDB e do baixo clero de outros partidos que só fazem política em causa própria.Triste, muito triste.
E o tempo passa
O presidente do Senado, Renan Calheiros, está mostrando que sua estratégia está dando certo. Ele enfrentou as denúncias mais pesadas, enorme crise familiar, ofensas em discursos da oposição e até de aliados, mas continua firme. Além de manter o mandato, o tempo está passando e a previsão é de que a segunda denúncia contra ele no Conselho de Ética só chegue ao fim em dezembro. Mais um ponto para ele. A esperança é que as demais denúncias se esvaziem, caiam no esquecimento popular e, assim, ele continue tranqüilo no comando da Casa.
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