Levantamento nas
contas da presidente mostra relação entre pagamentos de propina e remessas de
dinheiro do PT para empresas de fachada. Notas subfaturadas também serviram
para fraudar o custo oficial da eleição
Publicado na Revista Istoé - 19-07-15
Na semana passada, ISTOÉ revelou que por determinação do
ministro Gilmar Mendes, vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral, a
Polícia Federal deverá fazer uma apuração sobre alguns gastos realizados pela
campanha de Dilma Rousseff em 2014. Há a suspeita de diversos pagamentos feitos
a empresas que seriam apenas de fechada. Ou seja, haveria no esquema oficial de
doação de recursos para a campanha uma espécie de lavanderia de dinheiro
proveniente de propinas do petrolão. A reportagem também mostrou que as
propinas da UTC entregues à campanha de forma oficial, como delatado pelo
empresário Ricardo Pessoa, abasteceram boa parte dessas empresas de fachada
(leia quadro na pág. 38). Agora, um novo levantamento feito pela revista indica
que essas mesmas empresas podem ter sido aquinhoadas com propinas depositadas
na campanha de Dilma pela Camargo Corrêa e pela Engevix, cujos executivos já
admitiram a participação no petrolão em acordos de delação premiada.
Com base nos depoimentos dos executivos que colaboraram com a Justiça Federal em Curitiba, a reportagem levantou dezenas de recibos de doações dessas companhias, cruzando-os com as ordens de pagamento aos fornecedores que o TSE trata como "suspeitos". Todas as empresas arroladas pelo ministro Gilmar Mendes serviram de destino para parte do dinheiro proveniente do petrolão. A análise nos documentos de receitas e despesas apresentados pelo PT evidencia, ainda, fortes indícios da emissão de notas fiscais subfaturadas para evitar a violação do limite de gastos da campanha. São elementos que reforçam a tese da Operação Lava-Jato de que o PT usou o caixa 1 para lavagem de dinheiro.
Gerson Almada, ex-vice-presidente da Engevix, confirmou ao juiz
Sérgio Moro que pagou propina ao PT por meio de doações de campanha,
solicitadas pelo ex-tesoureiro da legenda João Vaccari Neto e pelo lobista
Milton Pascowitch, operador do ex-ministro José Dirceu – todos são réus na
Justiça Federal de Curitiba. Pressionada pelos protagonistas do escândalo, a
Engevix doou R$ 1,5 milhão para a campanha de Dilma em 2014. O recibo do
depósito data de 2 de outubro e foi assinado pelo então tesoureiro da campanha,
Edinho Silva, hoje ministro de Comunicação Social. No mesmo dia 2, a campanha
repassou R$ 156 mil para a UMTI, empresa de suporte de informática investigada
pelo TSE por suspeita de não ter prestado qualquer serviço à campanha. Outros
R$ 64,7 mil foram depositados na conta da Dialógica Comunicação, empresa de
Keffin Gracher, recém-nomeado assessor especial pelo ministro de Comunicação
Social. Há ainda vários pagamentos a empresas sem atividade aparente, segundo
as suspeitas do TSE. Chama atenção o pagamento de R$ 1,66 milhão à Ageis
Gráfica e Editora, que funciona no mesmo endereço de uma empresa de comércio de
equipamentos, no município catarinense de São José. Mais R$ 280 mil foram para
a Promo Gráfica, sediada num imóvel comercial de muros altos no bairro do
Lixeira, em Cuiabá (MT). Os telefones de ambas empresas estão desativados. A
Dialógica foi fechada há alguns meses. A UMTI diz que prestou os serviços
Dias antes da doação da Engevix, a campanha de Dilma recebeu um
aporte de R$ 2 milhões da Camargo Corrêa. Vice-presidente da empreiteira,
Eduardo Leite, confirmou para o Ministério Público o uso do caixa oficial da
campanha para o pagamento de propina e alegou que a doação foi feita para
garantir seus contratos com a Petrobras. À Justiça Federal, Leite relatou que
Vaccari lhe sugeriu que quitasse "compromissos atrasados", por meio
de doações eleitorais. Na campanha da reeleição de Dilma, o dinheiro da Camargo
serviu a uma série de pagamentos volumosos. No dia 1º de outubro, a campanha
repassou R$ 800 mil à gráfica VTPB e outros R$ 405 mil à Focal Comunicação. As
duas empresas estão na mira das apurações feitas pelo TSE e agora pela Polícia
Federal. Elas foram os maiores destinatários de recursos da campanha,
amealhando juntas quase R$ 50 milhões, atrás apenas da Polis Propaganda, do
publicitário João Santana, que recebeu R$ 70 milhões. No dia do pagamento à
VTPB e à Focal, o PT também depositou R$ 225 mil à gráfica "Souza &
Souza", uma empresa individual aberta em março de 2014, quatro meses antes
do início oficial da campanha.
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