Era setembro de 1998. Eu servia no 23º Batalhão de Caçadores, em Fortaleza, e na época tinha a patente de sargento. Fazia parte de uma unidade especial que raramente era acionada, sabe aquelas equipes que só são chamadas quando a coisa é muito séria? Pois é, éramos nós. Nossa especialidade era contenção de distúrbios civis e operações sigilosas que o comando não podia confiar pra qualquer um.
Naquela terça-feira, por volta das quinze horas, recebemos uma ordem direta do coronel Antônio Machado. Homem seco, de poucas palavras, que nunca brincava em serviço. Quando ele nos chamou na sala de briefing, já dava pra sentir que havia algo diferente no ar. O jeito como ele olhava pra gente, como se estivesse medindo nossa capacidade de manter a boca fechada.
"Soldados", ele disse, com aquela voz rouca de quem fumava três maços por dia, "vocês foram selecionados para uma missão de extrema importância e sigilo absoluto. Qualquer vazamento será considerado traição à pátria." Ele fez uma pausa, nos encarando um por um. "Às dezoito horas partiremos para Quixadá. O que encontraremos lá deve permanecer entre essas paredes pelo resto de suas vidas."
Quixadá. Até então, era só mais uma cidade do interior cearense pra mim. Conhecida pelos monólitos, pelas pedras gigantescas que se erguem da caatinga como se fossem dedos de um deus antigo apontando pro céu. Mas vocês sabem como são essas cidades pequenas do Nordeste. Todo mundo se conhece, as notícias correm de boca em boca mais rápido que fogo na palha seca. E quando algo estranho acontece, todo mundo fica sabendo.
Durante a viagem de duas horas até lá, o coronel nos passou mais detalhes. Aparentemente, moradores da zona rural haviam reportado "fenômenos inexplicáveis" durante três noites consecutivas. Luzes estranhas no céu, sons que não pareciam de nenhum animal conhecido, e o mais perturbador: gado encontrado morto em circunstâncias bizarras.
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