"Não fomos suficientemente firmes na denúncia política de todo esse descalabro no momento adequado. Não será agora, durante a campanha eleitoral, que conseguiremos despertar a população. Mas, para nos diferenciarmos da podridão reinante, temos a obrigação moral de não calar". Fernando Henrique Cardoso, "Carta aos Eleitores do PSDB" (07.09.06).
Agora é tarde? Sim, é tarde, por certo, para esperar – salvo um novo "milagre" – que a oposição consiga, na reta final da campanha, desvelar para a maioria da população o "banditismo de Estado" instaurado pelo governo Lula. Mas não é tarde para começar a organizar a resistência democrática no Brasil. A provável vitória de Lula só será equivalente a uma absolvição do chefe de governo e da quadrilha que se organizou no coração do Estado brasileiro se não houver uma oposição enraizada na sociedade (e não apenas representada figurativamente nos parlamentos) e disposta a resistir em defesa da democracia e do desenvolvimento. É agora, quando tem sobre si os holofotes, que Alckmin poderá lançar as sementes da nova oposição popular, começando a falar, no mínimo, para os quarenta milhões que o escolheram no primeiro turno. Senão quando? Quando voltar para casa, sem mandato, cabisbaixo, recebendo o conforto fraternal dos amigos dizendo-lhe que foi o "campeão moral" da disputa? É agora – não depois – que, além de orientar esse imenso contingente de cidadãos que já não querem mais saber de Lula, pode-se tentar falar para os que ainda resistem à verdade. A mensagem é simples: é necessário juntar os homens e as mulheres de bem do país para lutar contra o crime organizado no governo. O banditismo de Estado é um fator exterminador de desenvolvimento, numa proporção incomparavelmente superior àquela que poderia advir dos tradicionais desvios de conduta dos nossos chefes políticos ou de orientações programáticas erradas de nossos governos. Chegamos no limite: banditismo de Estado, a partir de certo grau, inviabiliza a própria idéia de desenvolvimento. Quando os responsáveis pelo governo do seu país se transformam, eles próprios, em bandidos, não lhe cabe outra coisa a fazer a não ser resistir.
Um golpe contra o processo democrático
Resistir agora, antes do desfecho do segundo turno, é denunciar o golpe contra o processo democrático que foi desferido pelo PT no governo.A campanha de Geraldo Alckmin deve servir para começar a moralizar o Brasil. Alckmin agora tem a obrigação moral e política de ser o porta-voz da decência, da lei, do Estado de Direito e da democracia. Basta ler a revista Veja que chegou às bancas para comprovar o acerto dessa orientação tática: o centro da questão, agora, é saber de onde veio o dinheiro e o grau de envolvimento dos homens de confiança de Lula (sobretudo Freud Godoy, mas também o Espinoza e vários outros como Bargas, Lorenzetti e Berzoini) na trama do falso-dossiê, que constitui um golpe contra o processo eleitoral. A oposição não pode ir para as urnas do dia 29 sem que o Brasil saiba as respostas. As eleições estão sob o efeito de um golpe que foi dado pelo governo (por auxiliares íntimos do presidente) contra o processo democrático. É hora de colocar a boca do trombone junto à imprensa nacional e internacional.
O futuro está sendo desenhado agora
São pequenas as chances de uma virada que ocorra em virtude de uma tomada de consciência da população. O momento de fazer isso já passou, quando Alckmin preferiu seguir outro caminho, da "acumulação primitiva" de popularidade – na base do "de grão em grão a galinha enche o papo" – confiante de que seduziria os eleitores lendo bons textos no teleprompter. Mas mesmo que sejam muito pequenas as chances de vitória de Alckmin, temos a obrigação de não calar e de fazer uma campanha que denuncie a podridão reinante no governo. Não apenas por obrigação moral, como assinalou Fernando Henrique, mas também por razões políticas. Eleito no segundo turno, Lula deverá prestar contas aos tribunais. E deverá sofrer um processo de impeachment. Para isso, entretanto, é necessário que a oposição partidário-parlamentar não se desorganize nem esmoreça. E é necessário que surja uma oposição mais enraizada na sociedade brasileira, um movimento em rede de resistência democrática capaz de impedir que o mal continue a graçar no Brasil, pervertendo a política e degenerando as instituições. Um segundo mandato de Lula não fará bem para a democracia e nem para o desenvolvimento. O prejuízo de deixar o país nas mãos de Lula por mais quatro longos anos será muito maior do que os riscos de removê-lo juridicamente ou por processo parlamentar, com base nas leis ou na Constituição Federal. Caso seja reeleito e continue no governo – sobretudo se a quadrilha não for desbaratada e os bandidos, punidos – caminharemos para um buraco negro da democracia e da liberdade no Brasil. Novamente faço aquela ressalva de praxe. É claro que sempre pode haver um "milagre", como, aliás, já ocorreu no primeiro turno. Mas sujeitos políticos responsáveis não podem contar com milagre, menos ainda contar com a repetição do milagre. Não é razoável que Alckmin permaneça rezando para aparecer um novo dossiê falso na cozinha do Alvorada. Com a eleição virtualmente ganha e sem necessidade de destruir reputações, eles agora não cometerão erros tão grosseiros. Acabou-se, portanto, o tempo de contar com a sorte. Acabou-se também o tempo da covardia e da preguiça, de ficar esperando que apareça algum desavisado para tirar do fogo as castanhas. Está chegando a hora de ver quem verdadeiramente tem a democracia como um valor fundamental na sua vida política.
Não ficar esperando os partidos
Em um momento gravíssimo como este que estamos vivendo, os democratas não podem ficar esperando tudo de partidos constituídos, em grande parte, como coligação de interesses e vaidades de atores individuais. É necessário que os cidadãos, seja na sociedade civil, seja no setor empresarial, seja, até mesmo, em governos éticos e democráticos que não aceitam a roubalheira petista, tomem a iniciativa de exigir o fim do banditismo de Estado – inclusive dos seus métodos de fundraising, como a "corrupção de Estado" – com a apuração dos delitos e a punição dos culpados.Se Lula for reeleito, a verdadeira luta contra os atentados que estão vitimando a democracia brasileira e inviabilizando nosso desenvolvimento humano e social sustentável estará apenas começando. Será uma luta árdua e de longa duração. As chances de sucesso dos democratas nessa luta dependem muito da maneira como as oposições se comportarem agora – ainda no segundo turno da eleições de 2006 – e no período imediatamente seguinte à derrota, se ela vier. Mas dependem também – e fundamentalmente – do que formos capazes de fazer, nós, os democratas, em termos de análise crítica, denúncia, proposição de alternativas, articulação de redes, organização de coletivos, blogs, sites, iniciativas de educação política e de mobilização. Estamos em um daqueles momentos nos quais parece que tudo o que foi feito antes não vale mais e o que será feito muito depois também não. Antes, já passou. Depois, "já era". A hora, portanto, é agora!
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