Por Cesar Maia para a Folha de SP, em 01/05/2010.
Sempre que as pesquisas
eleitorais são publicadas, surgem os questionamentos. Em geral as
críticas se baseiam nos resultados diferentes entre institutos, além da
margem de erro. Uma pesquisa de opinião pública, sobre qualquer questão,
depende de a informação ter chegado às pessoas. Fazer uma pesquisa de
opinião no Brasil sobre os conflitos subnacionais na Bélgica neste
momento não dará nenhum resultado, mesmo que parte das pessoas marque
uma resposta. Da mesma forma, quando a informação a ser pesquisada é
restrita, a pesquisa não testa opinião pública. Por exemplo: você acha
que o Copom vai aumentar, diminuir ou deixar os juros iguais?
O processo básico para que uma pesquisa eleitoral traduza o que
pensa a opinião pública é que o "jogo de coordenação" (expressão
técnica) tenha se desenvolvido. Num processo eleitoral, a opinião das
pessoas vai se formando em contato com a opinião de outras pessoas.
Elas recebem informações dos candidatos e dos meios de
comunicação e conversam entre si. É esse processo de tomada de decisão, a
partir das conversas entre as pessoas, o que se chama de "jogo de
coordenação". Longe do processo eleitoral, quando os partidos ainda não
iniciaram suas campanhas, sem sua própria TV/rádio, e a imprensa ainda
não priorizou a cobertura, as informações que chegam aos eleitores ainda
são diluídas. Vale a memória dos nomes.
No caso da eleição presidencial deste ano, um dos candidatos
tem o nome mais conhecido por sua participação em outras eleições e em
governos. O presidente da República, por um ano e meio, foi reduzindo
essa vantagem, divulgando o nome de sua candidata e buscando colá-la às
realizações do governo.
Mas quando o processo se abre e a mídia amplia os espaços
pré-eleitorais é que se inicia o "jogo de coordenação". Os candidatos
procuram colocar seus nomes e propostas no meio desse "jogo", assim como
desqualificar os seus adversários. As pessoas passam a tratar do tema
progressivamente. O "jogo" esquenta quando entra a TV dos candidatos.
As pesquisas, portanto, medem, de início, opiniões frias, e vão
retratando de forma crescente a tendência efetiva da opinião eleitoral,
a meio do "jogo de coordenação".
Os fatos eleitorais vão afetando esta opinião pública, mantendo
ou alternando tendências. Dessa forma, as pesquisas divulgadas nestes
meses falam da opinião pública, antes do "jogo de coordenação".
Os candidatos, em suas campanhas, vão influenciando esse "jogo"
de maneira a que as conversas estimuladas pela propaganda, direta e
indireta, produzam, no final, decisões a seu favor.
E as pesquisas, que no início apenas faziam diagnóstico, no final passam a fazer prognóstico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário