Por Cesar Maia – Folha de SP, 24/04/2010.
Desde os anos 80 a
mobilização da juventude e a sua participação política vinham
diminuindo. As mobilizações dos jovens em grandes manifestações nas ruas
foi minguando. Nas campanhas eleitorais, os debates acalorados, com
"torcidas" dos candidatos extravasando os auditórios, quase
desapareceram. Precipitadamente, analistas falavam de um processo de
alienação, produto da sociedade de consumo.
Provavelmente, a causa de fundo não tenha sido nenhuma razão
estrutural, mas as mudanças na própria atividade política. À medida que
os extremos políticos convergiam para o centro, produto de uma certa
desideologização após a queda do Muro de Berlim, as razões espontâneas
de mobilização perderam impulso.
Uma razão central está no que muitos politólogos chamam de
"partidocracia". Ao tempo em que ocorre a convergência ao centro, os
partidos se fecham e se consideram eles mesmos detentores da
representação popular a partir do voto da população. A "partidocracia"
produziu claros desestímulos à participação dos jovens, que não viam os
canais de participação, mobilidade e ascensão partidárias. Os
parlamentos foram se burocratizando como desdobramento desse processo. E
o efeito maior foi o desestímulo à participação dos jovens e a sua
desmobilização.
Nos últimos anos, há uma nítida reversão desse quadro,
desmentindo os que imaginavam que as causas eram estruturais e
permanentes. Se uma parte dos jovens busca a participação política com
expectativa de ascensão partidária e acesso a mandatos, a grande maioria
busca a participação política para influenciar as decisões. A internet
quebrou aquela obstrução. Mesmo que a maioria dos partidos não
desenvolva canais de acesso a mandatos e a espaços políticos, o fato é
que, em relação àqueles que querem participar da política, a internet
implodiu as máquinas partidárias. O uso da internet é proporcionalmente
maior entre os jovens, reforçando essa tendência. Esses descobrem que os
edifícios partidários podem ser alcançados em qualquer andar, sem
precisar mostrar carteirinha ao porteiro nem usar os seus elevadores.
A participação é livre, pode-se dizer o que se quer,
multiplicar o que se pensa, formar redes numa multiplicidade de temas e
numa frequência maior que os políticos com mandato, mobilizar a opinião
pública.
Já vivemos num ambiente muito diferente, com ampla participação
dos jovens, que, filiados ou não a partidos, opinam, pressionam e
chegam à sociedade, independente da vontade e da autorização dos
caciques de plantão. Com isso, a participação dos jovens voltou a dar
dinamismo ao processo político.
Os partidos que entenderem isso estarão conectados ao futuro.
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