MERCADOS DE CARBONO!
Por Rubens Barbosa presidente do IRICE e membro da Academia
Paulista de Letras - O Estado de S. Paulo, 25.
Fala-se muito em mercado
de carbono e do potencial de recursos que poderão tornar o Brasil no
maior ator mundial nessa área. Na prática, o assunto continua difícil de
ser entendido e implementado.
O Brasil, desde a formulação da Política Nacional sobre Mudança
do Clima, em 2009, está prometendo a regulamentação de um mercado de
carbono sem, na prática, qualquer avanço no âmbito do Ministério da
Economia. Em fins de 2020, o governo brasileiro recebeu estudo do Banco
Mundial (BM) com a recomendação da criação de um instrumento de
precificação de carbono como mercado regulado ou um imposto sobre
emissões. Como essa matéria não progrediu, o Brasil ficou sem o apoio
estratégico do BM para a preparação do mercado e para a fase de
implementação, ao contrário de 15 outros países, entre os quais Chile,
Colômbia e México. Em paralelo, a questão continua em exame pelo
Congresso, por meio do Projeto de Lei 528 proposto pelo deputado Marcelo
Ramos. Não se prevê uma decisão no curto prazo dessa matéria. Na
reunião da COP-26 em Glasgow, avançouse na regulamentação global do
mercado internacional de crédito de carbono entre países, o que coloca
pressão sobre as autoridades brasileiras.
Mais importante para a indústria e para o agronegócio nacionais
é o mercado voluntário de carbono. Não só pela crescente necessidade de
apresentar resultados para cumprir suas responsabilidades dentro da
expectativa do ESG (sigla em inglês para princípios ambiental, social e
de governança), como pela perspectiva de criação de uma taxa
alfandegária para desestimular a exportação para a União Europeia de
produtos que no processo produtivo emitem gás de efeito estufa. Existem
duas possibilidades que podem ser exploradas voluntariamente pelas
empresas: mercado de dívida relacionado com investimentos em projetos
ambientais, no contexto das práticas ESG do mercado financeiro e de
capitais; e o mercado de serviços ecossistêmicos, que tem a ver com o
carbono estocado ou sequestrado usado para compensação ambiental. O
mercado voluntário, assim, é formado a partir de projetos que
comercializam créditos de carbono originários de conservação de
floresta, reflorestamento, carbono em solo agrícola ou regeneração de
áreas. Nesse seguimento, o mercado deverá ter a sua consolidação e um
crescimento exponencial, pois as exigências de descarbonização serão
cada vez maiores e em prazos cada vez mais exíguos, a exigir a
compensação ambiental via aquisição de títulos de descarbonização. Os
certificados de floresta serão os maiores atores, pois a manutenção de
áreas florestais preservadas será indispensável. Vários títulos podem
ser emitidos como representativos do carbono estocado. O título, criado
em 1989, atualizado em 2020 e recentemente regulamentado (Decreto
10.828/21), é a Cédula de Produto Rural (CPR) para pagamento de
“serviços ambientais” referentes à redução de gases de efeito estufa,
manutenção ou aumento do estoque de carbono, redução de desmatamento e
degradação, conservação da biodiversidade, conservação dos recursos
hídricos, conservação do solo e outros benefícios ecossistêmicos. Esse
título tem sido chamado de “CPR Verde” e poderá ser custodiado na Cetip e
listado na B3, portanto, ser comercializado. Com ele, surge o produtor
rural que oferece o serviço intangível da preservação ambiental e com
ele o comprador compensa sua emissão.
Em suma, o que existe hoje é um mercado voluntário, com títulos
comercializados pelos quais empresas nacionais e estrangeiras assumem
metas ambientais por conta própria, como forma de demonstrar suas
práticas ESG para investidores, parceiros comerciais e consumidores.
Setores que necessitam comprovar a neutralidade nas emissões, como o da
mineração, deverão apresentar contrapartidas como a CPR Verde. No
comércio exterior, empresas exportadoras de produtos como fertilizantes,
aço e alumínio ficarão afetadas, caso a taxa de carbono seja aplicada
pela União Europeia. Nesse caso, as empresas desses setores deverão
buscar formas de neutralizar e compensar as emissões que forem geradas
na produção desses produtos, pois existe a possibilidade concreta de
virem a ser afetadas. Com isso, deverá surgir um mercado para
certificações verdes para o comércio exterior com a garantia de que os
referidos produtos não foram produzidos em áreas de desmatamento da
floresta. Outra área que começa a ser examinada no mercado de carbono
são projetos de energia renovável (PCH e fotovoltaica), que poderão
beneficiar-se de novas receitas para viabilizá-los.
Em todos esses casos, o modelo de negócio é simples e
transparente. As reservas florestais são auditadas e certificadas por
empresas internacionais e nacionais especializadas e uma porção
significativa dos recursos captados vai para o produtor rural que se
compromete a preservar a floresta, tanto a Amazônica como a Mata
Atlântica.
Há diversas iniciativas de empresas que oferecem esses títulos
ao mercado nacional e a oferta tende a aumentar. Há empresas (poucas)
que estão se organizando para oferecer esses títulos não só para o
mercado doméstico, mas também internacional, na China, na Europa e nos
EUA. As empresas industriais e do agronegócio terão de examinar com
cuidado as ofertas para terem certeza de que a operação é segura.
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