BRASIL E COLÔMBIA PRECISAM SOBREVIVER AO POPULISMO!
(Moisés Naím - O Estado de S. Paulo, 27) A Colômbia acaba de
eleger seu próximo presidente, Gustavo Petro, que, apesar de sua longa
carreira política, se apresenta como um forasteiro que vai desalojar do
poder as elites que sempre governaram o país. O mesmo foi prometido por
Andrés Manuel López Obrador, no México, Gabriel Boric, no Chile, Pedro
Castillo, no Peru, Alberto Fernández, na Argentina, e por vários outros
presidentes latinoamericanos.
No dia 2 de outubro, haverá eleições no Brasil e é quase certo
que o atual presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula da Silva
disputarão o cargo. Além de enfrentar agressivamente seus oponentes,
todos esses líderes prometem amplas mudanças institucionais e reformas
econômicas. Todos também se comprometeram a reduzir fortemente a pobreza
e a desigualdade. Eles serão bem sucedidos?
Não. Por várias décadas, nenhum da longa lista de predecessores
que tentaram fazer mudanças permanentes e indispensáveis teve sucesso. A
exceção a essa tendência foi Hugo Chávez e seu sucessor, Nicolás
Maduro, que transformaram drasticamente a Venezuela. Eles a destruíram.
POPULISMO.
O novo presidente colombiano é o mais recente membro desse
clube de líderes políticos que chegam ao poder com promessas populistas
que não poderão cumprir ou impor de qualquer maneira, independentemente
dos custos e de outros efeitos nefastos. Além disso, terão de governar
sociedades com níveis de polarização política e social que muitas vezes
impossibilitam acordos e compromissos entre grupos ou segmentos da
sociedade que rivalizam e não se toleram.
Como em muitas outras partes do mundo, importantes tomadas de
decisão governamentais na América Latina são bloqueadas pela
polarização, que se alimenta de identidades de grupo: religião, raça,
gênero, região, idade, interesses econômicos, ideologias e muito mais.
Essa polarização, que sempre existiu, agora foi potencializada
pela pós-verdade: o aumento da desinformação, das fake news, da
manipulação e da disseminação de mensagens que provocam desconfiança.
NOVA REALIDADE.
Estes são os três “Ps” que definem as realidades políticas
nestes tempos atuais: populismo (dividir e governar, prometer e vencer),
polarização (o uso e abuso da discórdia) e pós-verdade (em quem
acreditar?).
Governar com sucesso neste contexto torna-se ainda mais difícil
quando se leva em conta a situação econômica da América Latina. A saúde
das economias da região depende criticamente dos preços internacionais
das matérias-primas, que constituem seus principais itens de exportação.
Quando a demanda e os preços desses produtos no mercado mundial
aumentam, os governos latino-americanos obtêm recursos que alimentam os
gastos públicos e, assim, aliviam os atritos políticos e sociais. Se os
preços internacionais caem, o conflito político e social se
intensifica. É um padrão recorrente.
CONTRAÇÃO.
Tudo parece indicar que a economia global experimentará uma
forte contração e a América Latina não conseguirá evitar o impacto dos
choques externos. A inflação, fenômeno até então desconhecido para a
grande maioria dos jovens da região, reaparecerá após décadas em que a
alta dos preços não fazia parte do cotidiano. A inflação será uma fonte
perniciosa de fome, empobrecimento, desigualdade, estagnação econômica e
conflito social.
Os efeitos políticos da inflação são agora agravados por uma
terrível condição preexistente: a desilusão com a democracia. Milhões de
latino-americanos fortemente afetados pela pandemia, pelo desemprego,
pela má qualidade dos serviços públicos, pela insegurança alimentar,
pela corrupção e pelo crime perderam a esperança de que as eleições e a
democracia lhes deem as oportunidades que os políticos há muito lhes
oferecem.
Este é o contexto em que o presidente Petro deve governar a
Colômbia. Ele tem três alternativas. A primeira é dar viabilidade
política a sua ambiciosa agenda de mudanças por meio de transações
oportunistas com alguns líderes, partidos da oposição e grupos sociais
que se opõem a ele, o que inevitavelmente exigirá que o presidente faça
concessões. Aumentar essa margem de apoio será essencial e exigirá
decisões bem menos virtuosas.
ACORDO NACIONAL.
A segunda alternativa é Petro propor à Colômbia um amplo e
inclusivo acordo nacional. Uma aliança que permita a tomada de decisões
importantes e seja sincera e possa lhe dar o apoio de que ele necessita.
Novamente, isso envolve fazer concessões que podem ser difíceis de
engolir para o presidente e para aqueles que o apoiaram.
A terceira opção que lhe resta é se comportar como os
“presidentes 3Ps” fizeram em outras partes do mundo: enfraquecendo
sorrateiramente as instituições, as normas e os freios e contrapesos que
definem a democracia. Espero que a democracia colombiana sobreviva aos
3Ps.
Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos
- Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos - Pós Graduado em GSSS - Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde.
- Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
- Jornalista formado pela FAFI-BH,especializado em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela ESPMG. "O Tribunal Supremo dos EUA decidiu que "só uma imprensa livre e sem amarras pode expôr eficazmente as mentiras de um governo." Nós concordamos."
30 junho 2022
LÁ FORA COMO AQUI, A ESQUERDA PROMETE O QUE NÃO PODE CUMPRIR?!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário