ENERGIA RENOVÁVEL É O PLANO DE PAZ PARA O SÉCULO XXI!
(António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas – O
Globo, 28) Nero foi acusado de tocar lira enquanto Roma ardia em chamas.
Hoje, alguns líderes estão fazendo pior. Eles estão jogando combustível
no fogo. Literalmente. Enquanto as consequências da invasão da Rússia
na Ucrânia se propagam pelo mundo, a resposta de algumas nações à
crescente crise de energia tem sido dobrar o uso de combustíveis fósseis
– despejando bilhões de dólares em carvão, gasolina e gás, o que
aprofunda nossa emergência climática.
Enquanto isso, os indicadores climáticos continuam a quebrar
recordes, projetando um futuro de ferozes tempestades, inundações,
secas, incêndios e temperaturas inabitáveis em vastas áreas do planeta.
Nosso mundo enfrenta o caos climático. Novos investimentos na exploração
de combustíveis fósseis e na produção de infraestrutura são ilusórios.
Combustíveis fósseis não são a resposta e nunca deveriam ser. Podemos
ver os danos que estamos fazendo ao planeta e às nossas sociedades. Está
no noticiário diariamente e ninguém está imune.
Os combustíveis fósseis são a causa da crise climática. Energia
renovável é a resposta para limitar os distúrbios climáticos e
impulsionar a segurança energética. Se tivéssemos investido mais cedo e
massivamente em energia renovável, não nos encontraríamos novamente a
mercê dos instáveis mercados de combustíveis fósseis. Os renováveis são o
plano de paz para o século 21. Mas a batalha por uma transição
energética rápida e justa não está sendo travada em campo. Investidores
ainda apoiam combustíveis fósseis e governos ainda distribuem bilhões
para subsidiar carvão, petróleo e gás – cerca de 11 milhões de dólares a
cada minuto.
Existe uma palavra que define alívio a curto prazo em vez de
bem estar a longo prazo. Vício. Ainda estamos viciados em combustíveis
fósseis. Pela saúde das nossas sociedades e do planeta, precisamos
parar. Agora. O único caminho verdadeiro para a segurança energética,
preços de energia estáveis, prosperidade e um planeta habitável está em
abandonar combustíveis fósseis poluentes e acelerar a transição para
energia renovável.
Para isto, pedi que os governos do G20 desfaçam infraestrutura
em carvão, eliminando-a por completo em 2030, para os países da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e em
2040 para os demais. Tenho apelado para que os atores financeiros
abandonem o financiamento do combustível fóssil e invistam em energia
renovável. E proponho um plano com cinco pontos para impulsionar a
energia renovável no mundo.
Primeiro, devemos instituir a tecnologia de energia renovável
como um bem público global, incluindo a remoção das barreiras de
propriedade intelectual para transferência de tecnologia. Segundo,
devemos melhorar o acesso global às cadeias de suprimento para
componentes e materiais brutos de tecnologia de energia renovável.
Em 2020, o mundo instalou 5 gigawatts de suprimento de bateria.
Precisamos de uma capacidade de 600 gigawatts em 2030. Claramente,
precisamos de uma coalisão global para alcançar isto. Gargalos no
transporte e restrições nas cadeias de suprimento, assim como custos
mais altos para lítio e outros metais estão afetando o emprego destas
tecnologias e materiais justamente quando mais precisamos deles.
Terceiro, precisamos cortar a fita vermelha que atrapalha
projetos solares e eólicos. Precisamos de aprovações mais rápidas e mais
esforços para modernizar a matriz de eletricidade. Na União Europeia,
demora-se oito anos para aprovar uma fazenda eólica; dez anos nos
Estados Unidos. Na República da Coreia, projetos eólicos terrestres
precisam de 22 licenças de oito ministérios diferentes.
Quarto, o mundo precisa trocar os subsídios energéticos de
combustíveis fósseis para proteger as pessoas mais vulneráveis e
investir em uma transição justa para um futuro sustentável.
E quinto, precisamos triplicar os investimentos em renováveis.
Isto inclui bancos de desenvolvimento multilaterais e desenvolvimento de
instituições financeiras, assim como bancos comerciais. Precisamos
incrementar drasticamente o incentivo aos investimentos em renováveis.
Precisamos de mais urgência de todos os líderes globais. Já
estamos perigosamente perto de alcançar o limite de 1,5 graus Celsius
que a ciência aponta como o nível máximo de aquecimento para evitar os
piores impactos climáticos. Para manter este 1,5, precisamos reduzir as
emissões em 45% em 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até a
metade do século. Mas os comprometimentos nacionais atuais nos levarão a
um aumento de quase 14% nesta década. Isto significa catástrofe.
A resposta está nos renováveis – para ação climática, para
segurança energética e para prover eletricidade limpa para centenas de
milhões de pessoas que atualmente não a tem. Os renováveis são um ganho
triplo.
Não há desculpa para rejeitar uma revolução renovável. Enquanto
os preços de gasolina e gás atingem níveis históricos, os renováveis
estão ficando cada vez mais baratos, o tempo todo. O custo da energia
solar e de baterias despencou 85% na última década. O custo da energia
eólica caiu 55%. E investimento em renováveis cria três vezes mais
empregos do que em combustíveis fósseis.
Claro que os renováveis não são a única resposta para a crise
climática. Soluções baseadas na natureza, como reverter o desmatamento e
a degradação de terra, são essenciais. Assim como os esforços para
promover eficiência energética. Mas uma transição rápida para energias
renováveis precisa ser nossa ambição.
Na medida em que superamos a dependência de combustíveis
fósseis, os benefícios serão amplos e não apenas para o clima. Os preços
da energia serão mais baixos e previsíveis, com efeitos positivos nos
alimentos e na segurança econômica. Quando os preços de energia
aumentam, também sobem os custos de alimentos e de todos os bens de que
precisamos. Então vamos concordar que uma rápida revolução renovável é
necessária para deixarmos de tocar a lira enquanto nosso futuro arde em
chamas.
Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos
- Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos - Pós Graduado em GSSS - Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde.
- Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
- Jornalista formado pela FAFI-BH,especializado em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela ESPMG. "O Tribunal Supremo dos EUA decidiu que "só uma imprensa livre e sem amarras pode expôr eficazmente as mentiras de um governo." Nós concordamos."
02 julho 2022
Um futuro de ferozes tempestades, inundações, secas, incêndios e temperaturas inabitáveis em vastas áreas do planeta.
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