(O Estado de S. Paulo, 10) Superado com vigor o primeiro
impacto da pandemia, a economia latino-americana perde impulso, volta ao
ritmo anterior ao surto de covid-19 e se defronta com três desafios
simultâneos: garantir contas públicas sustentáveis, elevar o potencial
de crescimento econômico e promover importantes ganhos sociais,
favorecendo a coesão e combatendo as desigualdades. Formulados pelo
Fundo Monetário Internacional (FMI), o diagnóstico e a receita são
dificilmente contestáveis por qualquer político responsável, informado e
disposto a trabalhar pelo desenvolvimento de seu país e da região.
Nesse quadro, as perspectivas de expansão do Brasil são inferiores, sem
surpresa, às de outras grandes economias da América Latina e do Caribe –
uma desvantagem visível já no período petista e mantida, e até
agravada, nos três anos de mandato já completados pela presente
administração.
A forte reação econômica foi suficiente, no ano passado, para a
maior parte da região voltar aos níveis de atividade anteriores à
pandemia, normais para os latino-americanos e geralmente inferiores aos
de outros emergentes, principalmente da Ásia. O Produto Interno Bruto
(PIB) da América Latina e do Caribe encolheu 6,9% em 2020, cresceu 6,8%
em 2021 e deve expandir-se 2,4% neste ano e 2,6% no próximo, segundo
informe do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, desde janeiro
chefiado pelo brasileiro Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central
do Brasil. Na América do Sul, o PIB deve aumentar 1,8% em 2022 e 2,2% em
2023. O ganho estimado para 2021, de 7,1%, compensou com folga a perda
de 6,5% na onda inicial da pandemia. Nessas contas, a economia
brasileira se distingue duplamente das demais.
A primeira diferença aparece no balanço de 2020. Nesse ano o
PIB do Brasil diminuiu 3,9%, num recuo bem menor que o observado em
outros países da América Latina e de grande parte do mundo capitalista –
uma vantagem proclamada mais de uma vez pelo ministro da Economia,
Paulo Guedes. A segunda, bem visível quando se volta ao cenário mais
comum, confirma o menor vigor da economia brasileira, já evidente em
anos anteriores ao choque inicial da pandemia.
O crescimento projetado para o Brasil – de 0,3% em 2022 e de
1,6% em 2023 – é bem inferior ao estimado para outras economias da
região. Exemplo: depois de uma perda de 5,9% em 2020, a produção chilena
cresceu 12% em 2021 e deve aumentar 1,9% neste ano e também no próximo.
As taxas estimadas para a Colômbia são de 4,5% em 2022 e de 3,7% em
2023. O salto do ano passado, de 10,2%, superou amplamente a queda de
2020, estimada em 6,8%.
Houve avanços inegáveis na maior parte da América Latina, no
último quarto de século. As economias ficaram menos frágeis, houve menos
crises graves e os países tornaram-se menos dependentes do socorro do
FMI. Acordos de financiamento ainda foram assinados, mas em situações
menos dramáticas e acompanhados de condições mais suaves.
No Brasil, o cenário favorável durou cerca de dez anos, neste
século. Os padrões de governo começaram a ser afrouxados no segundo
mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e entraram em colapso
nos primeiros anos da presidente Dilma Rousseff. Muitos bilhões foram
queimados em políticas erradas, como a dos “campeões nacionais”,
enquanto se deteriorava a infraestrutura, a ineficiência era favorecida
pelo protecionismo, a Petrobras era pilhada e a indústria de
transformação perdia competitividade e relevância. A recuperação
econômica nunca se completou, depois da recessão de 2015-2016, e as
noções de planos e programas federais praticamente sumiram a partir de
2019.
O Brasil tem recuado duplamente – em relação à própria história
de modernização econômica e em relação aos padrões mundiais e
regionais. Embora menos industrializados, outros países
latino-americanos têm mostrado dinamismo bem maior que o brasileiro,
condições fiscais mais saudáveis e menor propensão a surtos
inflacionários. As novas projeções do FMI confirmam a evidente
desvantagem brasileira, mas quem, no Ministério da Economia, ainda leva a
sério o FMI?
Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos
- Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos - Pós Graduado em GSSS - Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde.
- Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
- Jornalista formado pela FAFI-BH,especializado em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela ESPMG. "O Tribunal Supremo dos EUA decidiu que "só uma imprensa livre e sem amarras pode expôr eficazmente as mentiras de um governo." Nós concordamos."
04 março 2022
PAULO GUEDES NÃO ACEITA OPINIÃO DO FMI SOBRE ECONOMIA BRASILEIRA
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