ELEIÇÃO LEVA PORTUGAL MAIS À ESQUERDA E EXPÕE CRISE DA DIREITA DEMOCRÁTICA!
(Mathias Alencastro, pesquisador do Centro Brasileiro de
Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC – Folha
de SP, 30) Muitos portugueses foram votar neste domingo atravessados
pela mesma pergunta que tira o sono de muitos brasileiros: como
assegurar a aliança das forças democráticas contra a extrema direita?
A tão esperada ascensão do Chega seria suficiente para colocar o
PSD, tradicional partido da centro-direita, face ao dilema que tem
devorado a alma dos conservadores ao redor do mundo? Isto é: aliar-se à
nova direita, xenófoba, negacionista e antirrepublicana, ou buscar a
preservação do pacto democrático por meio de uma aliança com a
centro-esquerda? A angústia dos conservadores era hoje visível no rosto
de Rui Rio, o apático líder do PSD, que passou a campanha prometendo
tudo e o seu contrário.
Do outro lado, o socialista António Costa parecia não ter
vontade nem condições de reeditar a geringonça, como é conhecida a
aliança das esquerdas que governou Portugal aliando disciplina fiscal e
inserção internacional entre 2015 e 2019.
Apesar do sucesso da empreitada, o Partido Comunista e o Bloco
de Esquerda romperam com o Partido Socialista em 2019 e, no final do ano
passado, ajudaram a derrubar o seu governo minoritário, pressionado por
novos líderes do seu partido e fragilizado pelo desmonte de um projeto
de poder que ele havia desenhado de cabo a rabo.
Nesse contexto moroso, ninguém esperava a vitória triunfal dos
socialistas deste domingo e o melhor resultado de Costa em três
eleições. Mesmo se os socialistas não conquistassem a maioria absoluta
na Assembleia da República, Costa só precisa, em princípio, de acordos
pontuais com aliados para seguir no comando de Portugal num momento
decisivo da sua história: caberá ao próximo governo administrar a
chamada "Bazuca", os volumosos fundos europeus destinados à retomada da
economia.
O resultado em Portugal também reforça algumas impressões
gerais sobre a dinâmica da política na era pós-pandemia. Primeiro,
experiência da crise sanitária e a tomada de consciência da crise
climática estão reaproximando os eleitores dos partidos comprometidos
com o Estado social.
Segundo, o que todos se acostumaram a chamar de crise da
democracia pode ser, na realidade, uma crise da direita. Com a
confirmação do Chega como terceira força política, fica impossível para a
direita democrática portuguesa competir eleitoralmente contra a
centro-esquerda. Uma situação subjacente nos Estados Unidos no meio do
Partido Republicano, escancarada na França, onde o racha das direitas é
ainda mais profundo e, em certa medida, no Brasil, onde o surgimento de
Sergio Moro e Jair Bolsonaro colocou a direita democrática em minoria
dentro do campo conservador.
Por último, é impossível não destacar a atuação de Rui Tavares,
candidato a deputado pelo Livre. Conhecido no Brasil pelo seu podcast
"Agora, agora e mais agora", ele mostrou que a melhor forma de combater a
baixaria verbal de candidatos mais acostumados às redes sociais do que
aos debates eleitorais é a retidão republicana, as propostas inovadoras e
o otimismo com o futuro. Uma inspiração para todos os progressistas
brasileiros.
Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos
- Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos - Pós Graduado em GSSS - Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde.
- Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
- Jornalista formado pela FAFI-BH,especializado em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela ESPMG. "O Tribunal Supremo dos EUA decidiu que "só uma imprensa livre e sem amarras pode expôr eficazmente as mentiras de um governo." Nós concordamos."
03 fevereiro 2022
ATENÇÃO BRASIL DE CENTRO E DE DIREITA, UNAM-SE SENÃO A ESQUERDA PODE ASSUMIR DE NOVO
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