Sobral Pinto, avô de Guilherme Fiuza, combinou honradez e destemor para protagonizar por quase cem anos de vida o espetáculo da bravura sem bravatas. Essa espécie de brasileiro é tão rara quanto a ararinha-azul. Numa floresta infestada de zanins, talvez já esteja extinta.
Morto em 1991, aos 98 anos, não poderia ser outro o título do
documentário que resume a trajetória luminosa do singularíssimo mineiro
de Barbacena: O HOMEM QUE NÃO TEM PREÇO. Quantos mais não estão
à venda?, pergunto-me na semana da sagração de Cristiano Zanin. Em maio
de 1969, ao visitar seu escritório no Rio para entregar-lhe um livro,
enfim pude apertar a mão daquele homem de terno e colete pretos como a
gravata, as meias e os sapatos, em harmonioso convívio com o branco da
camisa social e dos cabelos nevados. Vestia-se sempre assim. E assim se
trajava a lenda em 1983, quando empunhou o microfone no palanque do
mitológico comício da Candelária. Foi o mais comovente momento da
campanha das Diretas Já. “Peço silêncio”, disse Sobral antes de começar a
leitura do artigo primeiro da Constituição: “Todo o poder emana do
povo, e em seu nome deve ser exercido…”. O uivo da multidão completou
sem palavras a frase esquecida em algum lugar do passado.
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