Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos

Minha foto
Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Jornalista formado pela FAFI-BH,especializado em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela ESPMG. "O Tribunal Supremo dos EUA decidiu que "só uma imprensa livre e sem amarras pode expôr eficazmente as mentiras de um governo." Nós concordamos."

06 junho 2023

A DIPLOMACIA PRESIDENCIAL!

 A DIPLOMACIA PRESIDENCIAL!

(Oliver Stuenkel, analista político e professor de relações internacionais da FGV/SP - O Estado de S. Paulo, 05) Nos primeiros cinco meses de governo, o presidente brasileiro obteve uma série de êxitos notáveis na política externa. Em meio a um alívio generalizado com a saída de Jair Bolsonaro em capitais mundo afora, a mensagem de Lula de que o Brasil “está de volta”, articulada durante a COP-27, no Egito, em novembro do ano passado, surtiu efeito: o governo brasileiro conseguiu normalizar suas relações com seus os principais parceiros e ainda obteve promessas de importantes aportes financeiros para apoiar o país no combate ao desmatamento da Amazônia.

Mesmo sendo conquistas relativamente fáceis – conhecidas no jargão diplomático como “low-hanging fruit”, é inegável que Lula, uma das lideranças políticas mais conhecidas do mundo, teve papel importante no processo de consolidar a narrativa da normalização para o público global.

No mês passado, porém, o presidente gerou vários desgastes desnecessários que apontam os riscos da diplomacia presidencial. Afinal, com apenas uma frase, um chefe de Estado pode desfazer o trabalho de meses de sua equipe diplomática. O caso da Ucrânia é emblemático.

RISCO. A ideia de Lula de que o Brasil poderia participar de uma possível mediação no conflito em decorrência da invasão russa não é problemática em si. No entanto, vem causando fricção a forma errática como o presidente brasileiro tem conduzido a política externa em relação ao conflito.

Em vez de promover o diálogo a portas fechadas e testar diferentes ideias nos bastidores, Lula fez inúmeras declarações públicas que causaram consternação no Ocidente – e particularmente em Kiev. Por exemplo: ao sugerir publicamente que a Ucrânia ceda a Crimeia aos russos para negociar a paz – sem averiguar primeiro, a portas fechadas, como a proposta seria recebida –, prejudicou sua própria imagem, reduziu as chances de o Brasil ser aceito por Kiev como mediador e gerou tensões facilmente evitáveis com os EUA e vários países europeus.

O presidente turco, Recep Erdogan, por outro lado, atuou de forma mais discreta, mas com papel-chave, na negociação entre Kiev e Moscou por um acordo que permita a exportação de grãos ucranianos.

NOVA FASE. Outro desgaste desnecessário se deu na semana passada, quando uma série de comentários desastrados de Lula sobre a situação na Venezuela – inclusive exaltando a “legitimidade democrática” de Maduro – contaminou a cúpula dos líderes sul-americanos e obrigou os presidentes do Uruguai e do Chile a se distanciarem publicamente da visão do presidente brasileiro. O anfitrião, que havia organizado o encontro justamente para reconstruir pontes e fortalecer a convergência, fez com que a reunião fosse lembrada pela falta de consenso.

Agora que a lua de mel diplomática do governo brasileiro acabou, os próximos desafios externos serão bem mais complexos – e o custo de errar aumentará. No âmbito dos Brics, o Brasil sofrerá pressão imensa por parte de China e Rússia, interessadas em ampliar o grupo para formar uma aliança antiocidental, algo que não é do interesse brasileiro.

Declarações favoráveis à adesão da Venezuela aos Brics, feitas por Lula no calor do momento, terão um custo estratégico alto se ocorrerem no âmbito da cúpula do grupo, pois vão contra os esforços do Itamaraty de manter a exclusividade do grupo. Para o Brasil, fazer parte de um Brics diluído, com integrantes menos relevantes, virando uma espécie de G-77, representaria imensa perda de prestígio.

Com as eleições argentinas se aproximando, assessores diplomáticos de Lula terão de fazer de tudo para convencê-lo a não repetir os erros de Bolsonaro e fazer comentários públicos a favor ou contra os candidatos no país vizinho, pois pode estragar a relação com quem quer que vença o pleito, mesmo antes da posse.

Tradicionalmente, desafios políticos internos atrapalham a condução da política externa, pois demandam muita dedicação e energia dos mandatários.

CHANCELER. No caso do governo Lula, porém, as recentes tensões entre Planalto e Congresso podem, paradoxalmente, ter um impacto positivo: com o presidente mais ocupado em Brasília, aumenta a chance de o chanceler Mauro Vieira ter mais controle da política externa e reduzir o risco de desgastes desnecessários.

Um dos diplomatas mais experientes de sua geração, Vieira é conhecido por seu profissionalismo e discrição, atributos relevantes para a política externa brasileira neste momento.

Nenhum comentário: