Por Jonathan Wheatley, do Financial Times, em São Paulo.
"Os ativos brasileiros oscilaram esta semana. As ações, os títulos e o real brasileiro caíram 1 a 2% na segunda-feira depois da reeleição no fim de semana do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT, de linha esquerdista).
A queda foi atribuída ao anúncio do "fim da era Palocci" feito por um ministro poderoso. Foi uma referência, supostamente, ao fim da ortodoxia econômica adotada pelo Brasil sob Antonio Palocci, que foi ministro da Fazenda de janeiro de 2003 até março deste ano. Mas o verdadeiro culpado estava fora do Brasil desta vez: a preocupação sobre os indicadores do crescimento econômico dos EUA, abaixo da expectativa, publicados na semana passada.
Os mercados financeiros em geral estão otimistas sobre a perspectiva de um segundo mandato de Lula, e os ativos brasileiros se equilibraram ontem. Lula negou que jamais tenha havido uma "era Palocci" e prometeu que as metas de inflação e a ortodoxia fiscal continuarão em vigor.
O presidente compreende o poder da baixa inflação para aumentar o poder aquisitivo dos pobres - um dos principais motivos de sua vitória no domingo - e manteve as políticas ortodoxas em seu primeiro mandato de quatro anos, apesar do coro crescente de ministros, do PT e de líderes da indústria pedindo mudanças.
Também é provavelmente seguro supor que não haverá mudanças drásticas na liderança do Banco Central, embora haja indícios de que a autonomia operacional de que ele gozou no primeiro mandato de Lula será reduzida.O que deveria preocupar mais os mercados são os sinais confusos de ministros e do próprio presidente sobre o caminho para aumentar o crescimento.
O Brasil precisa desesperadamente crescer para enfrentar seus problemas sociais. Mas a economia se expandiu em média apenas 2,5% ao ano nos últimos 15 anos, e o "crescimento espetacular" prometido por Lula não se materializou. O crescimento foi de 2,3% no ano passado e será de aproximadamente 3% neste ano. Existe uma crescente impaciência sobre a aparente incapacidade das políticas ortodoxas de gerar resultados.
O próprio presidente disse a um entrevistador na rádio na segunda-feira:"Não foi possível [no primeiro mandato] equilibrar o crescimento com o controle da inflação. Agora posso dizer que a economia vai crescer".Isso combina com uma corrente popular entre os críticos do governo: que as metas de inflação estão bem, mas o Banco Central exagerou nelas e permitir um pouco mais de inflação permitiria um pouco mais de crescimento - talvez até o suficiente para gerar capital de investimento e colocar o Brasil em um círculo virtuoso de expansão econômica, impelido pela demanda do consumidor.
Esse é um território perigoso. Não, como alguns afirmam, porque o Brasil tenha uma história recente de hiperinflação e, como um alcoólico reabilitado, não possa nem cheirar a coisa ou embarcará em um surto inflacionário. Mas sobretudo porque o crescimento puxado pela demanda pode resultar em bolhas econômicas ou de ativos e é um desvio das medidas necessárias para criar condições de investimento. Medidas como essas - reforma trabalhista, reforma fiscal, redução da burocracia e, sobretudo, a reforma do sistema de previdência falido - são muito mais difíceis de realizar do que uma simples redução das taxas de juros.
O baixo crescimento do Brasil levou muitas empresas a investir no exterior. A recente aquisição pela Companhia Vale do Rio Doce da Inco, uma mineradora de níquel canadense, por US$ 18 bilhões, é o último e maior exemplo. A indústria têxtil Coteminas está abrindo fábricas no exterior para atender aos mercados americano e chinês. A aciaria Gerdau foi um dos primeiros grupos brasileiros a participar da consolidação global da indústria. "As baixas taxas de juros são um fator importante de crescimento", diz Jorge Gerdau Johannpeter, presidente da Gerdau, "mas a verdadeira questão são a poupança e o investimento."O índice de investimento anual do Brasil é de apenas 20% do Produto Interno Bruto, muito aquém das necessidades, e quase todo ele é praticado pelo setor privado.
Ao impor taxas e se endividar fortemente para financiar gastos imoderados, o governo reduz ao mesmo tempo seu próprio investimento e o volume de capital disponível para o setor privado. Essa é a verdadeira mudança que muitos investidores estrangeiros acreditam que o Brasil necessita e que o primeiro mandato de Lula deixou de produzir."
Nenhum comentário:
Postar um comentário