AMPLIAR O BRICS É RUIM PARA O BRASIL!
(Oliver Stuenkel, analista político e professor de relações
internacionais da FGV em São Paulo - O Estado de S. Paulo, 03) No
próximo dia 22 de agosto, os líderes do Brasil, da Rússia, da Índia, da
China e da África do Sul se reunirão em Joanesburgo para a 15ª cúpula do
Brics. Por vários motivos, será o encontro mais importante da história
do bloco, que se transformou em um grupo geopolítico em 2009, ano de sua
primeira cúpula.
Em primeiro lugar, o anfitrião precisa lidar com uma situação
diplomática delicada: como signatária do Tribunal Penal Internacional
(TPI), a África do Sul tem a obrigação de prender o presidente russo se
ele comparecer à reunião, pois o TPI emitiu, em março, mandado de prisão
contra Vladimir Putin pela deportação ilegal de crianças ucranianas
para a Rússia.
Nos últimos meses, o governo sul-africano até considerou
transferir a cúpula para a China – que não é signatária do TPI. Afinal,
como o ex-presidente sul-africano Thabo Mbeki apontou recentemente: “Não
podemos dizer ao presidente Putin, ‘por favor, venha para a África do
Sul’ e depois prendê-lo. Ao mesmo tempo, não podemos dizer ‘venha para a
África do Sul’ e não o prender – porque estamos violando nossa própria
lei”.
Porém, ao que tudo indica, é justamente isso que o governo
sul-africano fará, atitude que não apenas representaria um triunfo
diplomático para Putin, mas também fortaleceria o grupo Brics: afinal, o
país se mostraria disposto a violar sua própria legislação para
preservar a tradição diplomática das cúpulas do Brics, às quais até hoje
nenhum presidente deixou de comparecer.
Em segundo lugar, em Joanesburgo o grupo estará diante da
decisão mais importante de sua história: criar ou não um processo formal
para admitir novos integrantes. Em 2010, a China conseguiu convencer o
Brasil, a Rússia e a Índia a agregar a África do Sul, argumentando que
incluir um país africano dava ao Brics mais legitimidade para falar em
nome do mundo em desenvolvimento.
Parte da motivação, porém, provavelmente foi o desejo chinês de
tornar supérfluo o IBAS – grupo criado em 2003 composto por Índia,
Brasil e África do Sul – pois a consolidação de um agrupamento de três
grandes democracias no Sul Global não era do interesse de Pequim. De
fato, em 2013, o IBAS, uma das principais inovações da política externa
do primeiro mandato Lula, perdeu relevância.
Desde 2017, a China promove sua visão de um Brics ampliado, e
perto de 20 países – entre eles o Egito, o Irã, a Argentina e a Arábia
Saudita – sinalizaram o interesse em aderir. Como a China, cujo PIB é
maior do que de todos os outros integrantes somados, sempre será vista
como líder do grupo, a expansão faz sentido para Pequim, e um Brics com
dez ou vinte integrantes pode ajudar a formalizar a enorme influência
econômica e política que a China já exerce globalmente. Para a Rússia, a
expansão também faz sentido para se proteger do crescente isolamento
diplomático.
Para a Índia e o Brasil, porém, ampliar o grupo teria um custo
estratégico significativo: um Brics diluído dificilmente traria o mesmo
prestígio, status e exclusividade que oferece hoje. É em parte graças ao
Brics que o Brasil ainda é visto como uma potência em ascensão, apesar
de estar em estagnação há uma década. Enquanto Nova Deli e Brasília têm a
capacidade de vetar decisões em um agrupamento de cinco países, é bem
mais difícil exercer a mesma influência em uma aliança de dez ou vinte,
onde o maior objetivo dos novos integrantes é fortalecer laços
econômicos com a China.
Além disso, é importante lembrar que vários dos países que
buscam aderir ao grupo adotam uma estratégia explicitamente
anti-ocidental, contrária à estratégia brasileira e indiana de articular
uma postura de não-alinhamento no contexto das crescentes tensões entre
os EUA e a China. Um Brics que inclua a Venezuela, o Irã e a Síria
dificultaria garantir que as declarações finais das cúpulas tenham um
tom moderado.
A participação brasileira do grupo Brics, do jeito que está,
produz vantagens concretas para o Brasil, trazendo prestígio diplomático
e facilitando o diálogo com quatro atores-chave no sistema
internacional com os quais o País não tinha relação estreita há apenas
duas décadas. Aceitar um Brics ampliado equivaleria a abrir mão desses
benefícios.
Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos
- Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos - Pós Graduado em GSSS - Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde.
- Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
- Jornalista formado pela FAFI-BH,especializado em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela ESPMG. "O Tribunal Supremo dos EUA decidiu que "só uma imprensa livre e sem amarras pode expôr eficazmente as mentiras de um governo." Nós concordamos."
05 julho 2023
LULA USANDO DILMA VAI TRAIR O BRASIL E EM ESPECIAL MINAS GERAIS
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