A EXPANSÃO DO IMPÉRIO DO PÓ!
(Editorial - O Estado de S. Paulo, 19) “O‘Narcosul’, o cartel
do PCC, é a organização criminosa que mais cresce hoje no mundo”,
constatou o procurador Márcio Sérgio Christino. É mais um recorde infame
para um país cronicamente devastado pela violência e a corrupção.
Como mostrou reportagem do Estado, a Bolívia – em razão de sua
localização e das dificuldades de colaboração internacional com a
polícia local, em grande parte corrompida pelos criminosos – é o
santuário desse “Narcosul” (corruptela de Mercosul), que lá mantém
empresas de fachada e frotas de aeronaves e caminhões.
Em uma década, o Brasil, historicamente o maior mercado
consumidor na América do Sul, se transformou em um dos principais
fornecedores para o mundo. Segundo a ONU, o País responde por 7% das
apreensões globais, atrás apenas da Colômbia (34%) e dos EUA (18%).
Entre 1995 e 2004 eram apreendidas em média 6 toneladas de
cocaína por ano no Brasil. Em pouco tempo as suas principais quadrilhas –
o PCC, o Comando Vermelho e a Família do Norte – passaram a orquestrar o
transporte transatlântico de cocaína, distribuída pelas máfias do
Marrocos, Leste Europeu e Itália. Nos últimos seis anos a média anual de
apreensões no Brasil foi de mais de 50 toneladas.
Somando-se à coca da Colômbia, a produção peruana e boliviana
explodiu. Trafegando a cocaína pela rota amazônica até os portos de
Suape e Natal, ou pelo Sudeste até Santos, o Brasil está se tornando
para a Europa o que o México é para os EUA. Hoje o Brasil oscila entre a
primeira e a segunda principal origem nos entrepostos europeus.
Entre 2015 e 2019 a cocaína apreendida na África (de onde vai
para a Europa e outras regiões) saltou de 1,2 tonelada para 12,9
toneladas. A principal origem é o Brasil, respondendo por quase 50% do
total. O País também é a principal origem para a Ásia e a quarta para a
Oceania.
A expansão do narcotráfico brasileiro tem graves efeitos
colaterais, como as chacinas em presídios resultantes das disputas das
facções, ou os cada vez mais frequentes mega-assaltos (o “novo
cangaço”), com toda probabilidade financiados pelo PCC. As facções estão
ampliando suas estruturas de lavagem de dinheiro (facilitadas pelo
mercado de criptomoedas), cooptando negócios e se infiltrando na máquina
pública.
O mais surreal é que essas organizações foram gestadas
justamente nos locais projetados para erradicálas: as penitenciárias. Os
governos estaduais têm investido contra as finanças das facções e
isolado seus líderes em presídios de segurança máxima. Mas claramente
sua nacionalização e sua internacionalização estão superando a
repressão. O Sistema
Único de Segurança Pública, criado há três anos para promover
uma repactuação federativa, foi totalmente negligenciado pelo governo.
Já nem é mais o caso de cobrar providências para evitar que a
situação saia do controle, pois aparentemente já saiu; agora, urge uma
enérgica e inteligente ação concertada, dentro e fora do País, para
impedir que o “Narcosul” se estabeleça definitivamente como um Estado
transnacional, a ditar os termos da paz no continente.
Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos
- Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos - Pós Graduado em GSSS - Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde.
- Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
- Jornalista formado pela FAFI-BH,especializado em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela ESPMG. "O Tribunal Supremo dos EUA decidiu que "só uma imprensa livre e sem amarras pode expôr eficazmente as mentiras de um governo." Nós concordamos."
30 outubro 2021
A expansão do narcotráfico brasileiro tem graves efeitos colaterais
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário