Por Cesar Maia – Folha de SP, 26/02/2011 > O Brasil é um país democrático.
Bem..., mais ou menos.
As imperfeições são esperadas para uma democracia de apenas 20
anos. E o tempo vai aperfeiçoando o regime. Mas há vetores
institucionais que vêm regredindo. O mais importante deles é a
independência entre os Poderes.
Há uma crescente invasão de competência entre eles. A começar
pelo hiperpresidencialismo, a cada dia mais presente na América Latina.
Invasões de competência tornaram-se uma rotina no Brasil.
Legislar por medida provisória é quase tão grave quanto os
decretos-leis do regime autoritário. Mal se disfarça leis delegadas com
justificativas esfarrapadas. O Orçamento, eixo fundacional da relação
entre o Executivo e o Legislativo, desde o século 13 na Inglaterra,
tornou-se inócuo.
O Executivo nem se preocupa mais com sua aprovação, pois abre o
Orçamento quando quer, por meio do canhestro expediente dos bilionários
restos a pagar, que chegam a ser trianuais. E de créditos adicionais
por medida provisória.
Fazer Orçamento por decreto e por convênio é a rotina do
Executivo, que se jacta disso dando nome a essa prática: PAC. O
presidente pré-assina acordos e tratados com outros países, na certeza
de que o Congresso os vai coonestar.
O Ministério da Fazenda invade competências constitucionais do
Senado por meio de portarias de seu segundo escalão. Não dá a mínima
para a fixação, pelo Senado, das regras de endividamento.
Atribui-se um poder substituto do conselho da LRF, alegando sua
não regulamentação. Interpreta dispositivos federativos em relação a
despesas vinculadas com educação e saúde. O Senado, passivo, vê suas
atribuições em relação à Federação se desintegrar. A presença de
governadores no Senado é cada vez mais rara, quando ali deveria ser o
centro do debate de seus problemas.
O Congresso se agacha. Esse silêncio, quanto a suas
prerrogativas constitucionais, é substituído pelo alarido em relação a
emendas parlamentares e cargos. Não há necessidade de ler nenhum
compêndio de ciência política para saber que um refluxo do Poder
Legislativo corresponde a um avanço do Poder Judiciário sobre suas
prerrogativas, no que os manuais chamam de jurisdicialização da
política.
Ou de outra forma: na política não há vácuo. O Legislativo se
retrai e suas funções são ocupadas pelos demais Poderes. Assim foi na
fixação do piso previdenciário, na fidelidade partidária, na cláusula de
barreira, na definição de limites pessoais de ocupação de cargos em
comissão etc.
Por clamor popular, terminou se abrindo campo para que o
Judiciário legislasse. Na abertura de uma nova legislatura, na qual mais
uma vez se debate reformas que o país precisa, a mais importante de
todas é o Legislativo se colocar de pé e defender suas prerrogativas
constitucionais.
Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos
- Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos - Pós Graduado em GSSS - Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde.
- Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
- Jornalista formado pela FAFI-BH,especializado em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela ESPMG. "O Tribunal Supremo dos EUA decidiu que "só uma imprensa livre e sem amarras pode expôr eficazmente as mentiras de um governo." Nós concordamos."
30 novembro 2021
PODERES E DEMOCRACIA!
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