Tudo que é preciso para o triunfo do mal é que as pessoas de bem nadafaçam.” (Edmund Burke)Aécio Neves pulou fora da corrida presidencial de 2010. Agora é praticamenteoficial: José Serra e Dilma Rousseff são as duas opções viáveis nas próximaseleições. Em quem votar? Esse é um artigo que eu não gostaria de ter queescrever, mas me sinto na obrigação de fazê-lo. Afinal, o futuro daliberdade está em jogo, sob grande ameaça. Nenhuma das opções é atraente.Nenhum dos candidatos representa uma escolha decente para aqueles quedefendem as liberdades individuais. Será que há necessidade de optar? Ouserá que o voto nulo representa a única alternativa?
Tais questões me levaram à lembrança do excelente livro O Sonho de Cipião,de Iain Pears, uma leitura densa que desperta boas reflexões sobre oneoplatonismo. Quando a civilização está em xeque, até onde as pessoas debem podem ir, na tentativa de salvá-la da barbárie completa? Nas palavras doautor: “Usamos os bárbaros para controlar a barbárie? Podemos explorá-los demodo que preservem os valores civilizados ao invés de destruí-los? Os antigos atenienses tinham razão ao dizerem que assumir qualquer lado émelhor do que não assumir nenhum?”
Permanecer na “torre de marfim”, preservando uma visão ideal de mundo, semsujar as mãos com um voto infame, sem dúvida traz conforto. Manter a paz daconsciência tem seus grandes benefícios individuais. Além disso, o voto nulotem seu papel pragmático também: ele representa a única arma de protestopolítico contra todos que estão aí, contra o sistema podre atual. Somente nodia em que houver mais votos nulos do que votos em candidatos o recado dasurnas será ouvido como um brado retumbante, alertando que é chegada a horade mudanças estruturais. Os eleitos sempre abusam do respaldo das urnas, dosmilhões de eleitores que deram seu aval ao programa de governo do vencedor,ainda que muitas vezes tal voto seja fruto do desespero, da escolha no“menos pior”.
Mas existem momentos tão delicados e extremos, onde o que resta dasliberdades individuais está pendurado por um fio, que talvez essa posturaidealista e de longo prazo não seja razoável. Será que não valeria a penater fechado o nariz e eliminado o Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista em 1933 na Alemanha, antes que Hitler pudesse chegar ao poder? Será que o fim de eliminar Hugo Chávez justificaria o meio deplorável de eleger um candidato horrível, mas menos louco e autoritário? São questões filosóficas complexas. Confesso ficar angustiado quando penso nisso.
Voltando à realidade brasileira, temos um verdadeiro monopólio da esquerdana política nacional. PT e PSDB cada vez mais se parecem. Ambos desejam maisgoverno. Ambos rejeitam o livre mercado, o direito de propriedade privada, o capitalismo liberal. Mas existem algumas diferenças importantes também. O PT tem mais ranço ideológico, mais sede pelo poder absoluto, mais disposiçãopara adotar quaisquer meios – os mais abjetos – para tal meta. O PSDB pareceter mais limites éticos quanto a isso. O PT associou-se aos mais nefastos ditadores, defende abertamente grupos terroristas, carrega em seu âmago o DNA socialista. O PSDB não chega a tanto.
Além disso, há um fator relevante de curto prazo: o governo Lula aparelhou amáquina estatal toda, desde os três poderes, passando pelo Itamaraty, STF, Polícia Federal, as ONGs, as estatais, as agências reguladoras, tudo! Oprojeto de poder do PT é aquele seguido por Chávez na Venezuela, Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador, enfim, todos os comparsas do Foro de São Paulo. Se o avanço rumo ao socialismo não foi maior no Brasil, isso sedeve aos freios institucionais, mais sólidos aqui, e não ao desejo dopróprio governo. A simbiose entre Estado e governo na gestão Lula foi enorme. O estrago será duradouro. Mas quanto antes for abortado, melhor será: haverá menos sofrimento no processo de ajuste.
Justamente por isso acredito que os liberais devem olhar para este aspecto fundamental, e ignorar um pouco as semelhanças entre Serra e Dilma. Sim,Serra tem forte viés autoritário, apresenta indícios fascistas em sua gestãono governo de São Paulo, deseja controlar a economia como um czar faria,estou de acordo com isso tudo. Serra representa um perigo para as liberdades, isso é fato. Mas uma continuação da gestão petista através de Dilma é um tiro certo rumo ao pior. Dilma é tão autoritária ou mais que Serra, com o agravante de ter sido uma terrorista na juventude comunista, lutando não contra a ditadura, mas sim por outra ainda pior, aquela existente em Cuba ainda hoje. Ela nunca se arrependeu de seu passado vergonhoso; pelo contrário, sente orgulho. Seu grupo Colina planejou diversos assaltos. Como anular o voto sabendo que esta senhora poderá sernossa próxima presidente?! Como virar a cara sabendo que isso pode significar passos mais acelerados em direção ao socialismo “bolivariano”?
Entendo que para os defensores da liberdade individual, escolher entre Dilma e Serra é como uma escolha de Sofia: a derrota está anunciada antes mesmo dadecisão. Mesmo o resultado “desejado” será uma vitória de Pirro. Algo como escolher entre um soco na cara ou no estômago. Mas situações extremas demandam medidas extremas, e infelizmente colocam certos valores puristas em xeque. Anular o voto, desta vez, pode significar o triunfo definitivo domal. Em vez de soco na cara ou no estômago, podemos acabar com um tiro nanuca.
Dito isso, assumo que votarei em Serra, mas não sem antes tomar um Engov.Meu voto é anti-PT acima de qualquer coisa. Meu voto é contra o Lula, contrao Chávez, que já declarou abertamente apoio a Dilma. Meu voto não é a favorde Serra. E, no dia seguinte da eleição, já serei um crítico tão duro aogoverno Serra como sou hoje ao governo Lula. Mas, antes é preciso retirar acorja que está no poder. Antes é preciso desarmar a quadrilha que tomou conta de Brasília. Ainda que depois ela seja substituída por outra parecidaem muitos aspectos. Só o desaparelhamento de petistas do Estado já seria um ganho para a liberdade, ainda que momentâneo.
Respeito meus colegas liberais que discordam de mim e pretendem anular ovoto. Mas espero ter sido convincente de que o momento pede um pacto temporário com a barbárie, como única chance de salvar o que resta dacivilização – o que não é muito.
*Desconheço o autor. Fonte: http://aobomcombate.blogspot.com/?expref=next-blog
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