"Cientistas analisam pesquisa feita no Japão, que aponta prática Zen-Budista como estímulo à produção de serotonina.
A luz dourada do pôr-do-sol envolve a estátua de Buda e vai se aninhar bem perto do coração esculpido em pedra. Na contraluz do entardecer, em posição de reverência à natureza e à beleza das montanhas azuladas de Itabirito, na Região Central de Minas, o reverendo Dosho Saikawa(fotos), de 58 anos, está em paz consigo mesmo e em sintonia com mais 18 monges reunidos para um retiro espiritual, no Templo Toguetsu, no distrito de Coelhos, a 55 quilômetros de Belo Horizonte. Nem trânsito engarrafado, correria, pânico, violência, acidentes, caos aéreo, consumismo e competição. Sob o comando do abade superior, eles passam o dia meditando, em posição de lótus, sobre almofadas e com os olhos semi-abertos.
Na viagem a Minas, o mestre Saikawa trouxe na bagagem uma pesquisa polêmica, mas reveladora, segundo a qual a meditação faz bem ao espírito e também à saúde. Feita no Japão pelo médico Hideko Arita, professor de fisiologia da Universidade Médica de Tóquio, o estudo mostra que a meditação zen-budista (zazen) estimula a produção da serotonina, um dos neurotransmissores responsáveis pela sensação de felicidade. A prática é capaz até de competir com o Prozac, o antidepressivo mais consumido no mundo.
O monge Saikawa, da Comunidade Budista Sotoshu da América Latina, em São Paulo, diz que as pessoas hoje deixaram de caminhar, de mastigar e ficam o tempo todo em frente ao computador, o que diminui a produção de serotonina no cérebro. Ao meditar, segundo a pesquisa, a pessoa entra na onda mental alfa, ou seja, atinge o máximo do seu foco, sem pensar em mais nada. “Como um craque de futebol, no momento em que chuta a bola para o gol. O jogador não está pensando se a mulher dele está bem ou mal. Está em alfa, em alerta, com um único foco – fazer o gol”, explica a monja Coen, coordenadora da Comunidade Zen-Budista no Brasil, no Bairro Pacaembu, em São Paulo, uma das integrantes do retiro em Itabirito.
Ao contrário do que muitos pensam, meditar não é se sentar e ficar todo zen, alienado, tipo bonzinho o tempo todo. “Não posso estar alheio às injustiças sociais e ao desrespeito. É estar alerta no mundo, pronto para uma ação amorosa. É um árduo, disciplinado e diário caminho, que inclui estar atento e lúcido o tempo todo, conhecer e governar a mente, seja no trabalho, no lazer ou no trânsito louco. É parar a mente, o diálogo interno e não se apegar a nenhum pensamento, deixá-lo fluir, para viver o presente integralmente”, ensinam. Portanto, a meditação, prática não só do budismo, como também da tradição cristã, é um antídoto a mais para combater a desarmonia, o desequilíbrio e outros males contemporâneos.
Já o psiquiatra Humberto Correa, do Laboratório de Neurociência da UFMG, pede cautela, pois para os cientistas todos os estudos exigem demonstração científica." Fonte: Déa Januzzi