Jornalista Jarbas Cordeiro de Campos

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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Jornalista formado pela FAFI-BH,especializado em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pela ESPMG. "O Tribunal Supremo dos EUA decidiu que "só uma imprensa livre e sem amarras pode expôr eficazmente as mentiras de um governo." Nós concordamos."

24 novembro 2023

Gilmar Mendes sobre PEC que limita decisões do STF: "Não tem justificati...

 Pacheco diz que reação do STF à PEC foi ‘desproporcional’ em evento com ausência de três ministros.
Em meio à tensão institucional entre os dois Poderes depois da aprovação de PEC que limita o Supremo Tribunal Federal (STF), três ministros da Corte não compareceram a um evento que homenageou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e outras personalidades do mundo político, jurídico e financeiro na manhã desta sexta-feira, 24, em São Paulo. O evento, promovido pela revista “Economy and Law”, entregou a Pacheco a Medalha de Honra ao Mérito Jurídico de 2023. A organização do evento anunciou, nos últimos dias, que Cristiano Zanin e Nunes Marques estariam presentes. Já o nome de Dias Toffoli chegou a ser chamado no microfone para compor a mesa no início da cerimônia. Nenhum ministro do STF compareceu. Em seu discurso, o presidente do Senado defendeu a PEC e afirmou que reação dos magistrados foi “absolutamente desproporcional e desavisada”. Após o evento, ele minimizou a ausência dos ministros e disse acreditar que não há relação com os acontecimentos recentes. 

13 novembro 2023

A CENSURA ESTÁ NA RAIZ HISTORICA DO BRASIL.

 HISTORIADORES LEMBRAM OS 200 ANOS DA 'NOITE DA AGONIA' DE DOM PEDRO I!


(Ancelmo Gois – O Globo, 11) “Duzentos anos atrás, em 11 de novembro de 1823, o dia amanheceu tenso no Rio de Janeiro. Por ordens de Dom Pedro I, as tropas cercaram a Cadeia Velha, edifício onde ocorriam as reuniões da Assembleia Constituinte, e que hoje dá lugar a outra construção, o Palácio Tiradentes. O recém-coroado Imperador exigia providências dos deputados contra os jornais “O Tamoyo” e “Sentinela da Praia Grande”, que combatiam o absolutismo monárquico.

Os redatores dos jornais soltavam o verbo contra a ingerência dos portugueses na administração do Brasil já independente — clima animoso também presente nas ruas, resultando em confrontos físicos.

Sob a liderança dos irmãos Andrada, a Assembleia concordou em avaliar a proposta do Imperador, desde que as tropas ali estacionadas fossem dispersadas. Noite adentro, a vigília durou 27h, até que, na manhã de 12 de novembro, quando o ministro Vilela Barbosa chegou à Cadeia Velha, os deputados presentes passaram a exigir a declaração do Imperador como fora-da-lei. Foi a gota d’água.

Ao tomar conhecimento do ocorrido, Dom Pedro I, já insatisfeito com as tentativas de limitação de seu poder pelos constituintes, dissolveu a Assembleia. Alguns deputados, incluindo os três irmãos Andrada, foram presos e posteriormente deportados. Qualquer um que ousasse discordar e fizesse circular proclamações contrárias ao encerramento da Assembleia estava sujeito a multas.

O autoritarismo do Imperador encerrava o projeto de uma monarquia com poderes descentralizados.”

26 outubro 2023

CHOQUE DE IDENTIDADES NO ORIENTE MEDIO.



 Por Guga Chacra, para  O Globo, 19 outubro. 

 Meu avô nasceu otomano, achava que fosse sírio, disseram que era libanês e, se nascesse alguns quilômetros mais ao Sul, seria palestino. As vilas daquela região do Mediterrâneo Oriental integravam o Império Otomano, com sede na distante Istambul (Constantinopla). Não existiam fronteiras no que hoje é Israel, territórios palestinos, Líbano e Síria. A pessoa se identificava com sua vila, sua religião e sua região. Poderia ser um cristão melquita de Zahle, um muçulmano sunita de Nablus, um judeu de Aleppo, um muçulmano xiita de Nabatieh, um cristão armênio de Jerusalém, um druso das Colinas do Golã ou um cristão greco-ortodoxo de Haifa. Todos súditos otomanos.

A noção de Estado nacional era inexistente naquela região até a Primeira Guerra, quando os otomanos foram derrotados e viram seu império desmoronar. França e Reino Unido, os vencedores da guerra, dividiram entre si essa região do Levante, assim como outras partes do Império Otomano, a não ser pela Turquia. Por exemplo, os britânicos uniram três províncias diferentes na Mesopotâmia e inventaram uma monarquia artificial chamada Iraque. Anos depois, fariam o mesmo no que hoje é a Jordânia.

A França ficou com o que hoje é Síria e Líbano, criados no mandato francês nos anos 1920 e que viriam a ficar independentes nos anos 1940. O Reino Unido, por sua vez, ficou com a região da Palestina histórica. Como no resto do Levante, tratava-se de uma região multirreligiosa. Basta ver que a cidade antiga de Jerusalém historicamente é dividida em quatro quadriláteros — o cristão, o armênio (também cristão), o islâmico e o judaico. A maioria da população era muçulmana, mas havia expressivas minorias de diferentes denominações cristãs e judaicas.

Diferentemente do que ocorreu no Líbano e na Síria com a França, a região onde estava a Palestina histórica teve um status indefinido pelos britânicos. Afinal, além da população que ali vivia (muçulmanos, cristãos e judeus), ocorreu uma enorme imigração de judeus europeus durante o movimento sionista. Diferentemente da população local, eles traziam uma noção de Estado nacional e, diante das perseguições que sofriam na Europa, consideravam o que hoje é Israel como o único lugar onde poderiam estabelecer uma nação judaica dado os laços milenares com a região, onde está Jerusalém, berço do judaísmo — essa ideia ganhou ainda mais força ao redor do mundo com o Holocausto.

Nesse momento, duas identidades passam a se chocar. A dos muçulmanos e cristãos, que não tiveram uma nação para suas vilas sob o mandato britânico, diferentemente do ocorrido nos recém-independentes Síria e Líbano com a França — e com o colapso otomano começava a emergir a identidade palestina. E a dos judeus tanto vindos da Europa como os locais, que queriam uma nação judaica. Naquele momento, talvez até pudessem ter um Estado sectário sem maioria religiosa, como o Líbano.

No fim, os palestinos não aceitaram a partilha por avaliar ser injusta porque dava áreas de expressiva maioria árabe para Israel. O fato é que houve a guerra de 1948, que resultou na expulsão e saída da maioria dos palestinos do territórios israelenses — a maioria dos habitantes de Gaza descende de palestinos que viviam há gerações no que hoje é Israel. Paralelamente, nos ano seguintes, houve a expulsão ou saída de judeus de países como Síria, Egito, Iraque e Líbano. Segundo o escritor franco-libanês Amin Maalouf, que preside a Academia Francesa de Letras, estes dois acontecimentos são a tragédia do Levante, como é conhecida esta região.